Polêmico, meticuloso e controverso, o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se converteu aos poucos em uma das figuras mais importantes e temidas de Brasília. Do começo, nos bastidores da política do Rio de Janeiro, viveu seu ápice durante um ano e meio, entre 2015 e 2016, quando foi presidente da Câmara dos Deputados e considerado um dos responsáveis pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Cassado pelos pares e condenado pelo juiz Sergio Moro, vive seu ostracismo e, mais uma vez, é alvo de especulações sobre uma possível delação premiada.
Cunha deu seus primeiros passos na política participando das campanhas de Moreira Franco (PMDB) ao governo do Rio de Janeiro em 1986 e de Fernando Collor (PRN, hoje PTC) à Presidência da República em 1989. Foi por meio de Collor que assumiu seu primeiro cargo público, em 1991, quando foi nomeado para a presidência da extinta Telerj (empresa estatal de telefonia do Rio) pelo então presidente, mas não durou muito na função, passando pela sua primeira acusação de corrupção.
A época, o Tribunal de Contas da União (TCU) descobriu irregularidades na contratação de servidores sem concurso,
tratamento privilegiado a fornecedores e falhas na licitação para a edição de catálogos telefônicos. Deixou o cargo em abril de 1993, já no governo do presidente Itamar Franco (PMDB), mas levou da estreia em cargo público um título que ele se autoatribui até hoje, o de que “trouxe o telefone celular para o país”.
Dessa primeira fase de bastidores, Cunha acumula uma tentativa malsucedida de retornar à estatal. Pelas mãos de deputados do Rio de Janeiro, foi indicado ao presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para o comando da Telerj. Em seus livros de memórias Diários da Presidência, FHC se recorda de que a “ficha corrida” de Cunha fez com que ele fosse descartado. Filiado ao PPB (atual PP), Cunha tentou se eleger para a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) em 1998, mas foi derrotado.
A maior parte dos treze anos em que Eduardo Cunha esteve na Câmara foi no baixo clero, nome dado ao grupo de deputados de pouco prestígio. Pouco depois de eleito, deixou o PP e migrou para o PMDB, mas demorou para ser conhecido pelo país. Desde o primeiro dia, se consolidou em ser um defensor das pautas conservadoras, como o combate ao casamento gay, ao aborto e à legalização da maconha.
Por trás dessa figura, foi por vezes foi identificado como um defensor de lobbys de empresas para aprovação de medidas. Essa articulação do parlamentar com o capital financeiro foi o engate para que ele chegasse à linha sucessória da Presidência da República. Em 2014, ele ofereceu sua ajuda na captação de recursos para as campanhas de dezenas de parlamentares, muitos deles reeleitos para a atual legislatura. Em troca, um pedido simples: o apoio para assumir a Presidência da Câmara.
Enfrentando o candidato do então governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), além de Julio Delgado (PSB-MG) e Chico Alencar (PSOL-RJ), Cunha se elegeu para comandar a Câmara já no primeiro turno da disputa, com dez votos além do necessário. Foi a primeira vez que o Brasil descobriu quem era Eduardo Cunha, já identificado como o “pesadelo de Dilma Rousseff”. Se essa era a meta do parlamentar quando assumiu, ele conseguiu.
Foi o peemedebista quem, em 1º de dezembro de 2015, convocou uma já histórica entrevista coletiva para anunciar que ele havia decidido aceitar o pedido de impeachment contra a petista. Com o processo aberto, foi a senha para que o vice-presidente Michel Temer (PMDB), a oposição e os movimentos sociais contra Dilma decidissem que era, sim, possível derrubá-la do cargo.