O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, atua nos bastidores para tentar alterar o texto da reforma trabalhista, aprovado na quarta-feira, 26, pela Câmara. Ele também quer atrasar a tramitação da proposta, fazendo com que ela passe por diversos colegiados da Casa: Comissão de Assuntos Sociais (CAS), Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) – antes de seguir para o plenário.
Renan tem buscado apoio de parlamentares insatisfeitos dentro da bancada do PMDB e de outros partidos da base aliada, que estariam desconfortáveis com trechos do projeto. Para isso, ele conta ainda com a queda de popularidade do presidente Michel Temer, cuja avaliação positiva caiu para 4%, segundo pesquisa da consultoria Ipsos divulgada na quarta-feira. Renan também já está em contato com parlamentares da oposição para alinhar a sua estratégia.
A tramitação do texto dependeria de um entendimento entre o presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), internado na madrugada de quinta-feira, 27, após um mal-estar, e os líderes partidários. Caso a proposta passe pela CCJ, Renan possui um forte aliado na presidência do colegiado, Edison Lobão (PMDB-MA), que seria responsável por nomear o relator do texto. Já na CAS, a presidente é a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), que já sinalizou descontentamento com o governo.
Alguns governistas, entretanto, avaliam que Renan não conseguiria reunir um número suficiente de parlamentares para combater o texto aprovado na Câmara. O objetivo agora, dizem, é evitar o enfrentamento direto com o líder do PMDB e tentar o apoio dos senadores individualmente para que a tramitação seja acelerada. A expectativa dos aliados de Temer é votar a reforma em cerca de três semanas, mantendo o texto aprovado pelos deputados.
Nesta semana, Renan voltou a criticar abertamente a reforma trabalhista em discurso no plenário. O líder da bancada defendeu que “cabe ao Senado mudar muita coisa que veio da Câmara”. Segundo ele, o texto aprovado chega a “constranger” integrantes da base governista.
“Não acredito que essa reforma saia da Câmara e chegue aqui, ao Senado Federal – reforma de ouvidos moucos -, sem consultar opiniões; reforma que só interessa à banca, ao sistema financeiro, rejeitada em peso e de cabo a rabo pela população; reforma tão malfeita, que chega a constranger e a coagir a base do próprio governo. Por isso ela vai e volta, de recuo em recuo”, declarou.
Renan avalia que a reforma é “injusta”, porque retira direitos dos trabalhadores. “Ela rebaixa os salários, é sua consequência mais imediata e perversa. Ela pretende deixar o trabalhador sem defesa, condenado a aceitar acordos que reduzem a remuneração, suprimem reajustes e revogam garantias no emprego. Todos sabemos que acordos forçados em plena recessão, com 13 milhões de desempregados e com o desemprego aumentando mês a mês, é pedir que se aceite a crueldade como caridade”, criticou.