Prefeituras são acusadas de desviar dinheiro com falsa compra de medicamentos

O Grupo Estadual de Combate às Organizações Criminosas (Gecoc) do Ministério Público Estadual de Alagoas (MPE/AL) desencadeou, nesta quarta-feira (14), uma operação que tem o objetivo de desbaratar um esquema de desvio de recursos na área da saúde. Sete mandados de busca e apreensão foram cumpridos na sede de três prefeituras, três residências e uma empresa. O procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça Neto, acompanhou os trabalhos.

As investigações começaram em março último com o Grupo de Atuação Especial de Combate à Sonegação Fiscal e aos Crimes Contra a Ordem Tributária, Econômica e Conexo (Gaesf) e foram transferidas para o Gecoc porque um homem passou a ser suspeito de integrar uma organização criminosa.

Em depoimento prestado ao Ministério Público, esse homem, que resolveu colaborar com as investigações, contou que foi convencido por um empresário a montar uma empresa de fachada com o objetivo apenas de vender notas fiscais frias em troca de uma determinada quantia em dinheiro. Tal empresa deveria fornecer, supostamente, medicamentos para as prefeituras de Mata Grande, Passo do Camaragibe e Girau do Ponciano. No entanto, ela jamais vendeu os remédios, apesar de emitir nota fiscal em valores que, do segundo semestre de 2016 até o início deste ano, já ultrapassaram as cifras de R$ 2 milhões.

“Nessa esteira, o depoente abriu a empresa RR Distribuidora, começando a operar em julho de 2016, ou seja, emitir notas fiscais a pedido do empresário. Ressalte-se que na referida empresa nunca foi realizada qualquer compra, seja de medicamento, seja de outros materiais, sendo, por isso, considerada “fantasma”, isto é, voltada para fraudes em Prefeituras (…) Prosseguindo em seu depoimento, acrescentou que, ao receber o certificado digital da empresa, logo o entregou ao empresário, que ficava encarregado da emissão das notas fiscais, eis que o depoente não sabia como fazê-lo. Apenas tomava ciência da emissão das operações quando o empresário o avisava, informando-lhe que havia dinheiro no banco”, detalhou o Gecoc, ao formular os pedidos de busca e apreensão à 17ª Vara Criminal.

O golpe

Segundo o MPE/AL, o homem que prestou depoimento confessou que os produtos “falsamente adquiridos pelas prefeituras eram remédios que deveriam ser destinados a enfermos de baixa renda, seres humanos que padeceram em virtude da falta de escrúpulos de gestores e falsos empresários. Ele deixou claro que nenhum medicamento adentrou em sua empresa, ocorrendo o desvio dos cofres públicos, dinheiro que deveria servir para tratar as moléstias de pessoas carentes”.

E foi o próprio depoente quem apontou as cidades envolvidas no esquema. Inclusive, quando ele citou a prefeitura de Mata Grande, o Gecoc fez uma pesquisa nos documentos quando do cumprimento de mandado de busca e apreensão naquele município em janeiro deste ano e, de fato, encontrou notas fiscais expedidas pela RR Distribuidora LTDA. Também foram encontradas notas emitidas em nome da JC Campos Distribuidora, empresa pertencente ao empresário e que teria a mesma finalidade ilícita.

MANDADOS

“Fraudes aconteceram em gestões passadas”, diz MP

Nomes dos suspeitos estão mantidos em sigilo para apuração

Na Prefeitura de Mata Grande estiveram presentes o procurador-gera de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça Neto, e os promotores do Gecoc Antônio Luiz dos Santos e Luiz Tenório. Em Girau do Ponciano, foi o promotor de Justiça Kléber Valadares quem acompanhou a Operação Sepse. Já em Passo de Camaragibe participaram os promotores Thiago Chacon e, Hamilton Carneiro, do Gecoc.

Durante a operação, os promotores de Justiça com o apoio das Polícias Militar e Civil, cumpriram sete mandados de busca e apreensão. Os alvos foram as Prefeitura de Passo de Camaragibe, Girau do Ponciano e Mata Grande, as residências do empresário, de uma mulher e de um comerciante que participava do esquema de corrupção e da empresa Campos. É importante esclarecer que as fraudes teriam ocorrido em gestões passadas dos municípios alvo da operação.

Os nomes dos suspeitos de envolvimento no esquema fraudulento serão mantidos em sigilo porque as investigações continuam e o núcleo político que participa do crime é alvo da apuração.

A operação ganhou o nome de “Sepse”, que significa infecção generalizada.

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