Em 2006, quando Arthur Lira (PP) passou pela Assembleia Legislativa, o então deputado estadual declarou à Justiça Eleitoral que possuía um patrimônio de R$ 695.901,60. Mais de dez anos depois, hoje deputado federal, Lira, na última eleição, declarou a quantia de R$1.718.924,20, um enriquecimento de R$ 1 milhão sendo funcionário do povo. Apesar da quantia parecer volumosa para os simples trabalhadores brasileiros, quando se trata de político, não passa de trocado.
A reportagem do A Notícia começa a partir desta edição uma série de denúncias sobre o enriquecimento para lá de suspeito do filho do senador Benedito de Lira. Hoje, Arthur Lira é líder do partido na Câmara Federal, uma figura de grande referência do Centrão. Virou uma pedra no sapato de Jair Bolsonaro e vive falando frases de impacto contra o governo federal. Mas, tudo isso não passa de uma forma teatral para ganhar parcela da população que não concorda com as atitudes do presidente da República.
Em declaração de próprio punho, Arthur Lira contabilizou todos suas posses. Caminhonetes, cavalos de raça, vagas em marina, lanchas, clínicas, salas, sítios, veículos, fazendas, até trio elétrico. Tudo avaliado em R$ 11,5 milhões. E de onde viria todo esse dinheiro? Bem, Lira está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em acusação de formar uma organização criminosa com outros políticos pepistas: o Quadrilhão do PP. Só aí a acusação é de ter “papado” mais de R$ 1,6 milhão em propina.
Em 2016, provas compartilhadas pelo ministro falecido Teori Zavascki, antigo relator da operação Lava Jato no STF, com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal em Pernambuco, apontaram um ligação entre os alvos da Operação Turbulência com o esquema de desvios de recursos da Petrobras para políticos do PP em Alagoas, a partir de transferências do doleiro Youssef para a empresa fantasma Câmara e Vasconcelos, operada pelo testa de ferro Paulo César Morato, que apareceu envenenado e morto em um motel de Olinda, no dia 22 de junho.
Na operação deflagrada no dia 21 de junho daquele ano, três empresários, João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho, Eduardo Freire Bezerra Leite, conhecido como Eduardo Ventola, e Apolo Santana Vieira, foram acusados de operar um esquema com 18 empresas fantasmas, responsáveis por desviar mais de R$ 600 milhões de obras federais como Transposição e refinaria da Petrobras, para o abastecimento de campanhas eleitorais. A Câmara e Vasconcelos teria recebido cerca de R$ 18 milhões da OAS, para o pagamento de propinas.
ESQUEMA
Alagoanos responderam processo de corrupção passiva
O trio de empresários já havia ganho notoriedade nacional em agosto de 2014, após a queda do avião do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. Eles se apresentaram como compradores da aeronave, antes que a PF investigasse o caso a fundo e denunciasse que uma série de empresas fantasmas havia sido usado na operação.
Os problemas para os pernambucanos começaram no final de 2014, alguns meses depois da queda do avião de Eduardo Campos, quando o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa fez delação premiada e, entre outros assuntos, informou que propina paga pela construtora UTC, do empresário Ricardo Pessoa, desviada de contratos da Petrobras, havia sido repassada ao deputado federal Arthur Lira e seu pai, senador Benedito de Lira, na campanha de 2010.
Em 2015, o doleiro Albert Youssef, em um dos vários anexos de sua delação, confirmou a operação e deu detalhes, citando que usou duas empresas fantasmas (M.O. Consultoria e Empreiteira Rigidez) para fazer a transferência de R$ 200 mil para a empresa Câmara e Vasconcelos, supostamente indicadas por Arthur Lira. No bojo das investigações, os R$ 200 mil da Câmara e Vasconcelos são uma ínfima parte, pois os repasses das propinas remontaria a R$ 1 milhão, por outros mecanismos de repasses, como doações eleitorais, de acordo com as investigações do MPF.
Nos documentos do inquérito nacional, a Polícia Federal informou que o nome da Câmara e Vasconcelos foi indicado a Arthur Lira pelo agiota credor Eduardo Ventola e que a iniciativa não passou de estratégia de ocultação e dissimulação, da origem ilícitos, oriundos de propina na Petrobras. Não houve imputação de crimes aos pernambucanos, que foram investigados e denunciados em um caso à parte. Os alagoanos são acusados no processo de corrupção passiva, referente ao recebimento de vantagem indevida.
CONCHAVO
Imóveis duplicados foram declarados abaixo do valor de mercado
Em 2018, durante as eleições, Arthur Lira e o senador Fernando Collor (PTC-AL) compartilharam palanques. A intenção era fazer de Collor o “novo” governador do Estado. Não deu certo! Tanto é que o senador pulou fora da disputa. Mas a relação entre Lira e Collor expôs curiosidades.
Não foram poucos os imóveis que foram duplicados nas prestações de conta de Collor e Arthur Lira ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Bens do líder do PP apareciam no registro do TSE do ex-presidente até serem revelados em reportagem do Buzzfeed. Após a matéria, os bens foram retirados da lista de Collor.
Os bens declarados em ambas as candidaturas não correspondem ao seus respectivos valores de mercado. Com uma ou outra exceção, via de regra, os preços foram jogados para baixo.
Metade da Fazenda Santa Maria, em São Sebastião (AL), com 476,3 hectares – cerca de 4 760 000 m² -, foi avaliada na declaração de Collor em apenas 1.517 reais. Trata-se, na verdade, de um bem de Lira, avaliado pelo deputado em 104.000 reais. Quem quiser adquirir o terreno, entretanto, levando-se em conta seu valor de mercado, não vai pagar menos do que 4 milhões de reais. Como Lira — ou Collor — possuí apenas metade da terra, faltaram alguns milhares de reais em ambas as declarações.
Igualmente é metade da Fazenda Pedras, no mesmo município. Dedicada à produção de cana de açúcar, com 201 432 m², foi declarada pelo senador ao valor de 3.794 reais. Propriedade da família Lira, o bem foi declarado ao valor de 15.000 reais. Um terreno desse tamanho não seria vendido por menos de 170.000 reais.
Outra curiosidade é o apartamento de luxo no bairro de Ponta Verde, em Maceió, declarado como loja por Collor ao módico valor de 2.813 reais. Quem mora por lá, na verdade, é a ex-mulher de Lira, em disputa na Justiça pelo bem. O imóvel, ao que consta na ficha do pepista, é avaliado em 471.558 reais. Para o mercado, não é nem uma coisa nem outra: 1.100.000 reais seria mais correto pelo m² do bairro. Só a partir daí dá para ver a vasta podridão que se esconde na política alagoana.