Doula – palavra que vem do grego e quer dizer “mulher que serve” – é a acompanhante de parto que oferece assistência para a mulher no pré-natal, durante o parto e após o nascimento do bebê. Se você nunca ouviu falar nela ou já teve atendimento com alguma, saiba que o Hospital da Mulher Dra. Nise da Silveira, localizado no bairro Poço, em Maceió, disponibiliza esse serviço às gestantes alagoanas, destacando-se como a primeira unidade hospitalar do Brasil a contratar essas profissionais para integrar a equipe de assistência ao parto humanizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A diretora-geral do Hospital da Mulher, Eliza Barbosa, explica que o atendimento humanizado é uma prioridade da unidade que conta, especialmente, com dois quartos PPP (pré-parto, parto e pós-parto imediato) em ambiente confortável para deambulação, chuveiro morno, banheira, trabalho com bola suíça, musicoterapia, aromaterapia e penumbra.
“Aqui, na maternidade, temos doulas contratadas pelo SUS com acesso ao ambiente de parto 24 horas. As etapas de preparação, quando a parturiente chega, envolvem uma triagem inicial para avaliarmos seu pré-natal, informarmos sobre os benefícios do parto normal e os métodos não-farmacológicos – a fim de garantirmos conforto emocional e físico para estabelecermos uma confiança mútua, com afeto e respeito às individualidades e às necessidades da mãe”, garantiu Eliza Barbosa.
De acordo com Allana Moreira, doula do Hospital da Mulher, a maioria delas tem uma formação profissional anterior. Contudo, vale deixar claro que essa profissão não tem formação em enfermagem e fisioterapia, por exemplo, nem tampouco está relacionada diretamente a nenhuma dessas áreas. Para oferecer esse tipo de serviço, é preciso que se faça um curso específico para doulas, independentemente de sua formação, seja ela superior ou técnica.
O papel delas não é fazer qualquer tipo de procedimento médico. Doulas não fazem ausculta fetal, medem pressão, veem batimento cardíaco do bebê nem cortam o cordão umbilical após o nascimento. A função é dar o apoio emocional, o conforto físico, além de ser uma ponte entre os médicos e a mulher, traduzindo termos médicos para a grávida e ajudando-a a expressar seu desejo para o médico.
“Nunca substituiremos a presença do médico ou do profissional responsável no momento do parto, apenas oferecemos o suporte físico, emocional e informacional, antes, durante e depois do parto, prestando uma assistência individualizada à gestante e ao seu acompanhante”, explicou.
Para diminuir a ansiedade, o medo e a tensão da mulher no momento do parto, as doulas trabalham para que a gestante visualize e conecte-se com o parto dela – sempre com afirmações positivas –, incentivando a mulher, mostrando que ela é capaz de passar por todo o processo do parto. As profissionais também fazem massagens, alterações de movimento, usam técnicas de repouso e aromaterapia, entre outros recursos.
Os resultados do parto são melhores com as doulas, pois, segundo Allana, diversas pesquisas já mostram que a atuação das profissionais consegue reduzir a taxa de cesariana, o uso de anestesia, de fórceps e a diminuição da prática de episiotomia, que é a incisão efetuada na região do períneo (área muscular entre a vagina e o ânus) para ampliar o canal de parto, além de melhorar a qualidade dos resultados após o nascimento do bebê.
E os benefícios não param por aí: seis meses após o parto, o sucesso com a duração da amamentação e interação da mãe e do bebê é maior entre as mães que foram acompanhadas por doulas.
“São muitos benefícios, não só para a mãe e o bebê, mas também para o acompanhante e a família inteira. A mulher fica segura, consciente de todo o processo e, portanto, isso ajuda e facilita a gestante no momento do parto”, frisou Alana, que atua como doula há praticamente dois anos.
Geralmente a doula é contratada pela parturiente no sistema privado, que, por sua vez, busca acordar, também, com uma equipe que tenda a assumir práticas mais humanizadas e a ser mais empáticas à presença das doulas. Algumas, inclusive, fazem serviços voluntários.
No Brasil, o trabalho das doulas voluntárias foi iniciado no Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte, no ano de 1997. No Hospital Santa Marcelina, em São Paulo, no ano de 2000, e nas maternidades públicas do Rio de Janeiro com o surgimento de grupo Amigas da Luz, em 2002. No Estado de Pernambuco, em Recife, a prefeitura implantou nas três maternidades municipais o Programa Doula Comunitária Voluntária. Em 2002, na Policlínica e na Maternidade Professor Barros Lima, pioneiro na região Nordeste.
No Maranhão, a Maternidade Marly Sarney e o Hospital Universitário investiram no trabalho com as doulas após o Plano de Qualificação. No Piauí, a Maternidade Evangelina Rosa também tem mudado a rotina do hospital com esse importante modelo de atenção ao parto.
Mas, só no Hospital da Mulher, essas profissionais foram contratadas para orientar e acompanhar a parturiente durante o pré-parto, parto e o período pós-parto. A partir do momento em que a gestante dá entrada no hospital e é classificada como sendo de risco habitual, ela tem todo o suporte dessas profissionais, ombro a ombro, facilitando o momento do nascimento de seu bebê.
“Trazendo para o contexto do Hospital da Mulher, atuamos com a gestante a partir do momento em que ela está em trabalho de parto. Diariamente, lidamos com mulheres que, talvez, não tenham condições financeiras para contratar uma doula, visto que é um serviço particular. É um trabalho recente, que é lindo, e, por sua vez, está se desenvolvendo com mulheres que fazem isso com muito amor, umas com as outras. Realmente é um marco histórico para o nosso Estado, porque, pela primeira vez no Brasil, doulas são contratadas pelo SUS”, frisou Rosiane Oliveira, doula do Hospital da Mulher.
Segundo Damyeska Alves, fisioterapeuta e coordenadora do setor de Humanização do Hospital da Mulher, é visível a diferença no olhar das gestantes quando recebem o atendimento da equipe multidisciplinar da unidade hospitalar, formada por fisioterapeutas, enfermeiros e obstetras – que ficam responsáveis por toda a assistência técnica –, enquanto as doulas – pelo apoio emocional e afetivo –, cuja principal função é respeitar e escutar a mulher durante todo o processo do pré-parto, parto e pós-parto.
“A fisioterapia atua na biomecânica dessa mulher, na tentativa de ajudá-la a diminuir o espaço de tempo do parto, bem como os desconfortos gerados por ele, em virtude de ser um evento que causa muita dor. Já as doulas entram com todo suporte e apoio emocional. Por isso, os fisioterapeutas, junto às doulas, além de os enfermeiros obstetras, precisam andar de mãos dadas, porque a nossa prioridade aqui é o bem-estar da mulher e do bebê”, destacou.
Beneficiadas – Assim que passou pela área de classificação de risco do Hospital da Mulher, Taynara Maria Sobral de Barros, que deu à luz a pequena Eloá Sobral dos Santos na última quinta-feira (10), foi imediatamente atendida pela doula e por toda a equipe multiprofissional da unidade hospitalar. Segundo ela, o seu parto foi “a maior e a mais linda aventura” da sua vida, e isso, também, se deve à doula, que a ajudou, mostrando que ela tinha capacidade de vivenciar o parto normal que ela tanto queria.
“A doula ficou comigo até o último minuto, me atendeu muito bem e, mesmo sentido muitas dores, sem muita paciência, tudo que precisava no momento, ela conseguiu me auxiliar da melhor forma possível. Isso só serviu para tornar aquele momento especial e único. Então, só tenho a agradecer a todos que estiveram comigo durante o parto. Recomendo esse serviço a todas as mulheres que desejam ter seus bebês numa maternidade que parece mais um hospital particular”, elogiou, ao acrescentar que ficou emocionada quando viu Eloá pela primeira vez. A criança veio ao mundo em um parto normal e humanizado, às 20h14, pesando 2,9 quilos e medindo 45 centímetros.
Silvia Renata de Araújo compartilha do mesmo sentimento que sua colega de quarto, Taynara Maria Sobral. Ela chegou ao Hospital da Mulher pela manhã e só entrou em trabalho de parto às 19h08. Silvia deu à luz a Maria Sofia Araújo da Costa. O bebê, assim como o da paciente Eloá, nasceu de parto normal humanizado, pesando 3,4 quilos e medindo 49 centímetros. Desde a sua chegada à unidade hospitalar, Silvia foi acompanhada por toda a equipe.
“A doula e uma fisioterapeuta me assistiram, fizeram caminhada, tiraram todas as dúvidas que eu ainda tinha sobre o parto. Foi um momento inesquecível. Quando eu tive o meu primeiro filho, há oito anos, não tive o mesmo atendimento. Graças a Deus existe esse trabalho feito por elas. Recomendo as mães de primeira viagem que venham pra cá, caso seja gestante de risco habitual, porque é uma experiência inesquecível. O trabalho feito aqui é lindo e as meninas estão de parabéns”, ressaltou.
História – Na década de 70, uma médica antropologista chamada Dana Raphael escreveu um livro sobre amamentação e chamou as mulheres que apoiavam as mães no processo de amamentação de doulas. Alguns anos mais tarde, Klaus e Kennel, dois pediatras norte-americanos, foram estudar a interação entre mãe e bebê durante o nascimento em um hospital na Guatemala. Uma das estudantes de medicina que os acompanhou durante o estudo falava espanhol e começou a assistir os partos.
Ela atuava simplesmente dando a mão para as mulheres que estavam parindo. Depois de algum tempo, os pesquisadores perceberam que os partos dos quais essa estudante tinha participado havia sido mais rápido e com menos intervenções. Eles replicaram a iniciativa treinando e colocando mais três mulheres como apoiadoras, confirmaram a melhoria na qualidade dos partos e se apropriaram do termo doula para nomeá-las.