A rede social de Mark Zuckerberg fez parte de um escândalo a nível global, quando uma empresa de consultoria política teve acesso a dados de milhares de usuários sem informá-los.
Tais informações, por sua vez, foram usadas para veicular, de forma estratégica, notícias que favoreciam o candidato republicano, ao mesmo tempo que notícias falsas envolvendo outras figuras políticas eram disparadas a cada minuto.
Neste post, além de entender tudo o que você precisa saber sobre anúncios políticos nas redes sociais, vamos mostrar como cada uma delas vêm se posicionando. Isso será feito a partir dos seguintes tópicos:
Qual é a importância de debater o assunto?
Não é possível discutir o assunto sem antes compreender toda a questão que envolve o uso de dados de usuários nas redes sociais para a veiculação de campanhas políticas.
Em março de 2018, o mundo parou com a notícia de que uma empresa de análise política de dados — a Cambridge Analytica — teria acessado informações de mais de 50 milhões de usuários no Facebook.
Tudo isso foi feito sem o consentimento das pessoas, e a forma de capturar os dados foi aparentemente simples.
Bastava acessar um aplicativo de testes psicológicos, relativamente inocente, mas que escondia um desejo obscuro. A pessoa que aceitava os termos de uso acreditava que seus dados poderiam ser usados para pesquisas acadêmicas, mas todos os amigos do seu perfil e seguidores também tiveram seus dados coletados sem ter a mínima ideia do que estava acontecendo.
O que aconteceu, obviamente, não foram pesquisas acadêmicas.
Após reunir o volume gigantesco de dados, a empresa — responsável pela campanha presidencial de Donald Trump — criou uma série de conteúdos estrategicamente impulsionados para o público de interesse do republicano.
O vazamento do escândalo entre Facebook e Cambridge Analytica jogou luz a um fenômeno nocivo para a sociedade que já estava acontecendo com frequência.
Além da disputa presidencial norte-americana, a empresa também seria responsável por afetar resultados no Brexit (Reino Unido e União Europeia) e em governos do continente africano.
A posição oficial do Facebook, altamente criticado, seguiu uma linha neutra. Mark Zuckerberg se desviou das acusações com respostas vagas, afirmando desconhecer o caso e afirmar que está 100% comprometido com as políticas de proteção de dados dos usuários.
Como cada rede social se posiciona sobre os anúncios políticos?
Agora que você já entendeu os principais motivos pelos quais é tão importante continuar falando sobre o assunto, é hora de ver como cada rede social se posicionou publicamente sobre a veiculação de anúncios políticos.
O gigante buscador anunciou um prazo para modificar seriamente suas regras de segmentação. A partir do dia 6 de janeiro de 2020, políticos só poderão personalizar a entrega dos anúncios por idade, gênero e localização.
Não será possível, por exemplo, selecionar perfis de eleitores — tendências de direita ou esquerda, além de preferências de partidos políticos, não poderão ser utilizadas. Além disso, argumentos de campanha falsos, mesmo no formato de vídeo, também estão banidos.
O Twitter se posicionou bruscamente contra a veiculação de anúncios políticos. Na rede social, qualquer anúncio pago relacionado ao tema está proibido. Ou seja: tudo que envolva candidatos, partidos, eleições, legislações ou políticos com mandato não poderá ser impulsionado para o público.
Jack Dorsey, um dos criadores da rede social, deu uma declaração alfinetando o Facebook:
“Não é sobre liberdade de expressão. É sobre pagar por alcance. E pagar para aumentar o alcance do discurso político tem ramificações significativas que a infraestrutura democrática de hoje talvez não esteja preparada para lidar”.
Críticos ao discurso de Dorsey afirmam que é mais simples para a plataforma adotar o discurso e se posicionar dessa maneira pois ela não é um grande player no mercado.
O Facebook afirmou que está em processo de estudo sobre as segmentações — como o alcance do anúncio, por exemplo — mas até então ainda não emitiu posicionamentos favoráveis a um maior controle nos anúncios.
A falta de posicionamento da equipe de Mark Zuckerberg, inclusive, é pauta para muitas críticas por parte da comunidade global.
Atualmente, a rede social tem uma página alimentada por conteúdos sobre o assunto. No Brasil, o posicionamento oficial é o seguinte: “Todos os anunciantes no Brasil que veiculam anúncios sobre temas sociais, eleições ou política são incentivados a passar pelo processo de autorização de anúncios antes de veicularem esses anúncios no país.”
Ao continuar, porém, a rede social retira a sua responsabilidade direta: “Cabe a você, como anunciante, cumprir as leis e os regulamentos eleitorais e publicitários vigentes no seu país.”
No dia 24 de setembro, o Facebook anunciou que não fará a checagem de fatos nas publicações que envolvam assuntos políticos. A ação só será realizada nos casos em que exista compartilhamento de conteúdo previamente desmentido — como links, imagens ou vídeos.
Snapchat
O Snapchat foi outra rede social que se posicionou de maneira favorável à checagem de fatos. Todas as publicidades de cunho político vão passar por uma análise prévia, com o objetivo de entender se aquele conteúdo é verídico ou não.
Evan Speigel, fundador do Snapchat, concedeu uma entrevista para o canal CNBC e ressaltou a importância de ter responsabilidade em meio a um público jovem: “Nós atingimos um público muito jovem, aqueles que votarão pela primeira vez, e queremos engajá-los a participar da conversa política, mas nós não permitimos que desinformação apareça nessas publicidades”.
De que forma o cenário futuro vem se construindo?
As expectativas estão grandes na medida que a corrida presidencial dos Estados Unidos começa a ficar em evidência novamente.
Uma das principais diferenças entre o que aconteceu há quatro anos e o cenário futuro é o discernimento da população: se antes o fenômeno era praticamente invisível, hoje existem milhares de pessoas dedicadas a desconstruir o uso abusivo das redes sociais na vida em sociedade.
Outra grande tendência é que as redes sociais sejam cada vez mais transparentes em relação ao registro e uso de dados dos usuários.
O Facebook pode até ser um caso à parte no momento, mas as pressões sociais e políticas vêm ganhando força suficiente para guiar o universo digital para rumos democráticos e com maior segurança.
Em relação ao usuário, que se vê frente a centenas de plataformas prontas para coletarem todos os dados que conseguirem, é preciso adotar comportamentos mais atentos no que diz respeito ao compartilhamento da vida online. Nada de “ler e aceitar os termos de uso” sem de fato prestar atenção neles!