No Congresso, aliados de Bolsonaro são contrários às medidas de isolamento social recomendadas pelo Ministério da Saúde
O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) contrariou previsões e confrontou, mais uma vez, o Ministério da Saúde sobre a Covid-19. Num debate proporcionado pelo UOL, nesta segunda-feira (13), o parlamentar disse que o Brasil está próximo do fim do pico da pandemia do novo coronavírus. No entanto, segundo o titular da pasta, Luiz Henrique Mandetta, o topo da curva ocorreria em junho. Além disso, Terra voltou a afirmar que o isolamento não reduz o número de casos da doença.
O programa, intitulado UOL Debate, reuniu, além de Terra, os deputados federais Coronel Tadeu (PSL-SP), Major Vitor Hugo (PSL-GO) e Carla Zambelli (PSL-SP), e o senador Eduardo Gomes (MDB-TO).
Osmar Terra, que também é ex-ministro, continua minimizando os efeitos e as consequências a pandemia no país. Para ele, essa situação “não é o apocalipse como estão prevendo”, pois há muito mais alarde da mídia e de profissionais da Saúde do que o real cenário brasileiro.
“Eu tenho me preocupado com essa questão do número porque está um pânico muito grande na população. Pouco tempo atrás, estava um virologista [em referência a Átila Iamarino] dizendo que ia ter um milhão de mortos. Aí vem o The Intercept que prevê 432 mil mortos no Brasil. Tudo isso alimentando pânico da população”, declarou.
“Essa epidemia não vai ser mais grave do que todas as epidemias de inverno que temos juntas. (…) É difícil acertar um número exato, mas te garanto que minha margem de erro vai ser muito menor do que estão dizendo que vai ser 1 milhão, 432 mil”, ponderou o deputado.
Ele defende ainda que o vírus se propaga, principalmente, através de portadores assintomáticos e que o pico da doença está mais próximo do que o previsto pelo órgãos da Saúde. “Quase 99% dos portadores do vírus não vão ter sintomas. Vão estar contaminando, depois criando anticorpos para cumprir o rito de todas as epidemias virais”, e prosseguiu.
“Ele [o coronavírus] já está chegando no pico. Deve chegar essa semana, se já não chegou. A dúvida é se dia 8 de abril foi o pico. Dia 8 teve um número muito elevado de casos novos – 2.200 casos novos. Nos dias seguintes, 9, 10, 11, 12, não teve nenhum número que superou isso. Pode ser o início. Acho que temos que esperar até o final da semana”, acrescentou.
“Eu vi o ministério [da Saúde] falando que [o pico] vai chegar no final de junho. Eu estou convencido que o pico é agora, e termina em maio. Graças a Deus, essa epidemia termina no final de maio”, projetou Terra.
O ex-ministro disse que, de acordo com seus cálculos, em 4.890 municípios do Brasil não há casos registrados do novo coronavírus, o que não justificaria medidas restritivas nesses locais. “Há necessidade de verdade de trancar todo mundo em casa quando não está acontecendo nada no município?”, questionou. Na sua opinião, esse número mostra justamente que a pandemia no país já está a caminho do fim.
Isolamento x Economia
Osmar Terra reforça a preocupação com a crise econômica e social que está acontecendo em decorrência do isolamento. Para ele, “essa quarentena é de ficção. (…) Só vale para a classe média, que tem geladeira cheia e dinheiro no banco. Os pobres estão muito mais preocupados com a fome do que com o vírus”.
Ele acredita que a quarentena não trouxe resultados satisfatórios no enfrentamento à pandemia e que é necessário manter a economia mais ativa possível. Em concordância, o deputato Coronel Tadeu também sinalizou a possibilidade de relaxar as medidas de restrição, confrontando as posições de diversos governadores.
“O vírus está em toda parte. Não vai chegar amanhã na favela, não está programando viagem do bairro rico para a favela. O que quero dizer é que todo esse sofrimento, quarentena, lojas fechadas… Não resolveu. A curva está seguindo normal”, defendeu Terra, opinando que não houve achatamento da curva, que era o principal objetivo do isolamento social. E ainda indagou: “Quanto tempo o governo vai ter dinheiro pra repassar se não tem arrecadação?”.
“Única opção”
O isolamento social é apontado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e reforçado pelo Ministério da Saúde no Brasil, como a principal medida de combate à pandemia de covid-19. De acordo com o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom, a precaução é a “única opção” frente ao contágio internacional, uma vez que ainda não foram comprovados medicamentos eficazes contra a doença. “É vital respeitar a dignidade do próximo. É vital que os governos se mantenham informados e apoiem o isolamento”, frisou Adhanom.
Segundo dados divulgados nesse domingo (12) pelo Ministério da Saúde, o Brasil possui 22.169 casos do novo coronavírus e 1.223 mortes.
Bolsonaro x Mandetta
Após entrevista de Mandetta ao Fantástico, nesse domingo (12), ao ser questionado a respeito, o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo, disse que “ninguém é insubstituível” e criticou o fato de o ministro ter se mostrado em desacordo com o presidente. “Acho que o ministro erra quando incita qualquer divergência com o presidente da República, que é o chefe dele”, disse o deputado.
Na ocasião, Mandetta ressaltou que espera “uma fala unificada e o fim da dubiedade”, o que foi interpretado como indireta a Bolsonaro. Após a fala de Vitor Hugo, a deputada federal Carla Zambelli opinou dizendo que uma eventual demissão de Mandetta não geraria desgaste tão grande ao governo nesse momento.