Nitazoxanida foi apontada como a substância em teste e entrou hoje (16) para lista de remédios controlados, cujas vendas dependem de receituário de controle especial
O Ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação (MCTIC), Marcos Pontes, anunciou, em coletiva realizada nessa quarta-feira (15), que um medicamento apresentou 94% de eficácia em ensaios in vitro com células infectadas pelo novo coronavírus. No entanto, o ministro não informou o nome do fármaco para evitar uma correria em torno do produto sem que haja certeza de que ele irá funcionar em humanos. Após a entrevista, o site O Antagonista informou ter apurado que o remédio misterioso se tratava do vermífugo Annita, cujo princípio ativo é a nitazoxanida.
O então minsitro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chegou a revelar que foi procurado por Marcos Pontes com a sugestão de usar um vermífugo para combater o novo coronavírus. “Outras drogas também matam in vitro. Até hoje, acho, que o ministro Pontes ia colocar (o tema), porque ele foi lá no ministério para que a gente fizesse (testes). Tem um anti-helmíntico, dizendo que essa linha aqui, que é um vermífugo. Mata muito bem in vitro. E agora vai começar os testes em pessoas. Vermífugo mata vírus, cloroquina mata vírus”, disse Mandetta em coletiva de imprensa de ontem (15). Ele também ressaltou que os resultados podem não se repetir em pessoas.
O laboratório farmacêutico FQM Farmoquímica, que vende o medicamento Annita no Brasil, realiza desde janeiro uma pesquisa própria para usar a nitazoxanida no combate ao coronavírus. A empresa diz que não tem conhecimento sobre a pesquisa anunciada ontem pelo MCTIC e não forneceu remédio ao governo para a realização de testes.
De acordo com Vinicius Blum, gerente executivo da Farmoquímica e responsável pela área médica da companhia, embora o uso do remédio seja considerado seguro, a covid-19 é uma doença nova e seria imprudente afirmar que é um tratamento eficaz para esse fim. Ele afirma que a nitazoxanida já foi testada com a dosagem estudada pela empresa (600mg) para casos de H1N1 em seres humanos. Em laboratório, a dosagem já inibiu o crescimento de outros vírus, como ebola e o próprio novo coronavírus, em testes feitos em outros países. A empresa diz que ainda é cedo para divulgar dados de eficácia do medicamento.
A nitazoxanida é um antiparasitário, aprovada pela Anvisa apenas para tratamento de gastroenterites virais provocadas por rotavírus ou norovírus, helmintíases, amebíase, giardíase, criptosporidíase, blastocistose, balantidíase e isosporíase. Inclusive o medicamento possui contraindicações, ele não deve ser usado por pessoas com doenças hepáticas ou com doença renal.
Testes em humanos
Nas próximas semanas, 500 pacientes internados com a covid-19 começarão a receber a substância anunciada por Pontes em caráter experimental e serão monitorados ao longo de 14 dias. A pesquisa clínica será feita em sete hospitais das Forças Armadas, sendo cinco no Rio de Janeiro, um em São Paulo e outro em Brasília.
Marcos Pontes prevê a disponibilidade do tratamento para o grande público a partir de meados de maio. “No máximo na metade de maio teremos uma solução de tratamento. Um remédio sem efeitos colaterais, (com estudo) desenvolvido pela pesquisa brasileira com todo o rigor científico”, afirmou.
De acordo com o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), o nome do fármaco, que tem baixo custo e ampla distribuição no território nacional, será mantido em sigilo até que os resultados de testes clínicos sejam concluídos.
Só com receita
No Diário Oficial da União, em publicação desta quinta-feira (16), a nitazoxanida, que antes podia ser comercializada sem a necessidade de receita médica, passou a entrar na lista ‘C1’ de medicamentos, que são substâncias sujeitas à Receita de Controle Especial em duas vias.
Vale ressaltar que nenhum remédio deve ser utilizado sem indicação do médico ou farmacêutico e, em caso de dúvidas, a população deve procurar orientação desses profissionais.