Essas semanas foram especialmente tristes para mim e para minha família. Por causa da pandemia, perdemos 2 tios e vários amigos que deixarão grande vazio em nossos corações. Sei que quando falamos dos efeitos do COVID-19, não nos limitamos a comentar estatísticas, mas importantes e insubstituíveis vidas.
Se não bastasse o sofrimento que o vírus impõe à população, ainda estamos sujeitos às barbaridades de gestores públicos que fazem da doença uma disputa política. Polarizam o debate entre os que querem abrir a economia a qualquer custo e os que preferem o lockdown. Entre os que acham que a cloroquina é remédio e aqueles que pensam que é veneno.
No Brasil, enquanto choramos mais de 37 mil mortes, a credibilidade do governo federal, que já vinha derretendo após a saída de dois ministros, parece valer muito pouco após o escândalo de domingo, quando além de omitir o número total de mortos, passou a faltar com a transparência para o povo Brasileiro e para o mundo.
Em Alagoas, estamos à beira do caos, no limite de ocupação de 80% dos leitos de UTI, com mais de 16 mil pessoas contaminadas e quase 700 óbitos. Por aqui, o COVID-19 piorou o que já era ruim. A saúde em Alagoas sempre foi precária e o governo envolvido em escândalos de desvios e má gestão dos recursos públicos.
Quem já esqueceu da operação deflagrada pela PF no final de 2019 que constatou corrupção nos serviços de próteses e materiais médicos? Mandados de prisão foram cumpridos na Secretaria da Saúde de Alagoas (Sesau) e no Hospital Geral do Estado (HGE). Será que aproveitam o COVID para abafar esse absurdo?
Por isso, é que no meio de tanta incompetência e má-fé, agradeço a quem realmente vem fazendo a diferença no combate à pandemia e na proteção de todos os alagoanos. Quero prestar a minha homenagem a todos os profissionais da saúde de Alagoas e, em especial aqui de Maceió, onde a pandemia nos atinge com mais força.
Meu carinho e reconhecimento a todos os médicos, enfermeiros, técnicos, radiologistas, maqueiros, psicólogos, assistentes sociais, auxiliares, motoristas de ambulância, socorristas… Enfim, a todos aqueles que dão sua saúde para cuidar da nossa.
Infelizmente, a única coisa que esses profissionais vêm recebendo do poder público federal e estadual é o descaso. Ao invés de travar batalhas políticas, deveriam valorizar esses profissionais que vem sendo mal tratados desde a reforma trabalhista com a perda de vários direitos.
A recente MP 927 tentou impedir que a COVID fosse considerada como doença acidentária, atingindo diretamente esses profissionais que se arriscam encarando o vírus no seu ambiente de trabalho. Aqui nos estabelecimentos de saúde alagoanos, muitas vezes sem às proteções que deveriam ser fornecidos pelos empregadores, conforme várias denúncias.
Querem inclusive colocar a culpa da crise econômica nas costas desses nossos profissionais, impondo o congelamento dos vencimentos por 2 anos. Um tremendo absurdo. Uma tremenda injustiça. Profissionais da saúde merecem o reconhecimento e a valorização urgente do poder público federal e estadual e não basta só “tapinha nas costas”. Tem que melhorar urgentemente salário e condições de trabalho.
Israel Lessa – Ex-superintendente regional do Trabalho em Alagoas