*Israel Lessa – Ex-superintendente do Trabalho em Alagoas
Fico impressionado com o grande número de trabalhadores que, após serem demitidos, ainda não conseguiram receber o seguro desemprego. Recebo, diariamente, várias reclamações de trabalhadores, escritórios de contabilidade e empregadores.
Se não bastasse o medo de se tornar parte das terríveis estatísticas que nos colocam na segunda posição em mortes no mundo, o governo federal literalmente fechou as portas para o trabalhador. Há um verdadeiro apagão nos serviços. O aumento dos pedidos por causa dos efeitos da pandemia dificulta o processamento dos benefícios. Só aqui em Alagoas, entre abril e maio, os requerimentos cresceram quase 50% e milhares estão sem receber o seguro-desemprego.
Justamente durante o COVID-19, o governo está omisso para a população que mais precisa. Dos mais de 8 mil pedidos no Estado, quase 40% são para a faixa salarial entre um e 1,5 salários mínimos, mostrando a urgência que deveria estar sendo dada nesses pagamentos.
Esses números não refletem a avalanche de pedidos que virá: o próprio governo estima que 200 mil brasileiros ainda não solicitaram o seguro desemprego por alguma dificuldade. Problema é o que não falta: postos fechados, canais remotos que não respondem, logins e senhas que não funcionam, “erros” indicados durante o processo on-line que o trabalhador talvez jamais saiba do que se trata.
Querem botar a culpa no sistema para disfarçar a incompetência e a péssima gestão do governo que parece tem prazer e crueldade em demorar para pagar benefícios. Recentemente, vimos as vergonhosas filas nas agências da Caixa Econômica para o pagamento do auxílio emergencial. Agora o mesmo absurdo com o seguro desemprego.
Isso é culpa do COVID? Claro que não. Antes da pandemia, o descaso com os beneficiários do INSS já estava nas capas dos principais jornais: mais de 1 milhão de brasileiros ainda sofrem na fila de espera do INSS. O vírus e o auxílio emergencial apenas tiraram de foco a crise dos serviços da Previdência.
Aliás, o vírus também tirou o foco do grande absurdo proposto pelo governo pela MP 905 que tentava impor o pagamento de contribuição previdenciária para o beneficiário do seguro desemprego. Ao invés de tributar grandes fortunas, o governo queria tirar mais dinheiro dos desempregados. Foi o que nós chamamos de “taxação das grandes pobrezas”.
Em verdade, todo esse descaso, agravado pelo problema do seguro-desemprego, é uma bomba relógio que vai explodir na economia alagoana. Além do desemprego, o atraso desses recursos vai agravar as já péssimas perspectivas: é menos dinheiro circulando, principalmente no comércio e nos serviços locais.
A omissão de políticas públicas vai nos jogar na espiral da recessão porque com menos emprego, menos renda circulará na economia. A menor renda repercute na diminuição do consumo. Com menos pessoas consumindo, há diminuição das vendas. O menor faturamento das empresas, gera mais demissões. E por aí vamos, desgovernados, até encontrar o fundo do poço.
Enquanto isso, pergunto a todos vocês? Cadê o poder público? O que anda fazendo? Temos certeza de uma coisa: não está nem oferecendo serviços de qualidade, nem pagando benefícios em dia.