OPINIÃO – Quando os governantes de Maceió e de Alagoas se prestam a meros operadores de “pare e siga”

Sempre converso para entender as demandas e realidades das pessoas. Independentemente de classe social, ideológica, time de futebol, riqueza ou títulos acadêmicos sempre podemos aprender com o próximo. É esse contato que diferencia o fracasso e o sucesso da gestão pública.

Como Superintendente do Trabalho, mediava, todos os dias, os interesses das partes, as vezes conflituosas, da relação de trabalho. Continuo fazendo isso. Nossas portas sempre estão abertas para sindicalistas, representantes das federações da indústria e do comércio, trabalhadores de todas as profissões e categorias, empreendedores, jovens que buscam o primeiro emprego, enfim todos do mundo do trabalho. Mas é no chão da fábrica, no estabelecimento comercial, nas obras, nos canaviais, in loco, que a nossa presença se faz ainda mais importante.

Nessas tantas histórias, lembro de quando conheci o nome de uma profissão bastante oportuna para os dias atuais: o operador de “pare e siga”. Em verdade, o ofício também é conhecido por outros nomes, como bandeirinha, auxiliar de estradas ou controladores de tráfego e denomina o trabalhador que, faça sol ou chuva, trabalha nas obras de rodovias por todo o Brasil, arriscando sua vida enquanto atuam para evitar acidentes.
Para quem não conhece, ele geralmente trabalha na interdição parcial de estradas em obras, mostrando uma plaquinha vermelha escrita “pare”. Enquanto estamos do lado impedido de seguir em viagem, um outro trabalhador está no sentido oposto, “operando” uma plaquinha igual, só que mostrando o lado verde escrito “siga”.

Quem pensa que tal função só existe nas obras de rodovias está enganado.

Quando conversamos com quem trabalha, quem tenta empreender, quem possui estabelecimentos comerciais, de todos os portes, em Maceió e em Alagoas, percebemos o desespero e o completo abandono pelos governantes que, ao invés de dar as caras, sem máscaras, e enfrentar os problemas junto com a população, se encastelam em redes sociais e se prestam a meros operadores de “pare e siga”, se limitando a trocar as cores de placas.

O nome pode ser até mais bonito, mas as cores do distanciamento social funcionam como as placas de “pare e siga” e representam muito pouco na perspectiva econômica de quem vive em nossa cidade e Estado. Precisamos de uma política de efetivo enfrentamento da grave crise econômica decorrente da pandemia do COVID-19. Trocar as cores das placas, como fazem os operadores de “pare e siga” não serve para nada se não forem acompanhadas, urgentemente, de uma política de crédito e subsídios para os empresários, bem como a garantia de emprego para os maceioenses e alagoanos.

Olha que esses governantes já possuem o histórico muito ruim com o uso de cores. As experiências são péssimas.

Simplesmente pintar faixas coloridas na Avenida Fernandes Lima não chegaram nem perto de resolver os problemas estruturais de mobilidade de nossa cidade. Simplesmente pintar o mapa dos bairros do Pinheiro, Mutange, Bebedouro e Bom Parto não amenizaram em nada a dor dos que estão vendo suas casas e estabelecimentos comerciais rachando e afundando nos buracos da cidade.

A tragédia econômica está anunciada. Não adianta trocar a cor da placa, permitindo a abertura do comércio, dos bares, dos hotéis, das academias, se não garantirmos ao empresário as condições estruturais e financeiras para a manutenção dos estabelecimentos e dos empregos. Falta política pública para a reabertura, investimento e o fortalecimento das cadeias de valor aqui em Maceió.

O breve fôlego de nossa economia local vai existir exatamente enquanto durarem as frágeis políticas federais de suspensão dos contratos de trabalho, redução de jornada e concessão do benefício emergencial que têm prazo para acabar. Mas e depois disso? Qual será a resposta de Maceió e Alagoas? Nossos governantes continuarão a se limitar a operar as cores do “para e siga”?

Israel Lessa – ex-superintendente do Ministério do Trabalho em Alagoas

 

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