Uma pesquisa por amostragem, feita em 45 das mais de 1 mil casas existente nos Flexal de Baixo e de Cima, regiões que pertencem ao bairro de Bebedouro, mostrou um quadro assustador: praticamente três a cada quatro casas apresentavam estrutura comprometida em grau crítico. O que isso significa? Que as pessoas que vivem no imóvel correm sérios riscos, tendo em vista que a gravidade das rachaduras, fissuras e afundamento do solo tornam o local inadequado para ser habitado.
A constatação de grau crítico foi feita em 32 das 45 casas que passaram por uma inspeção predial feita entre os dias 3 e 7 de agosto, por um engenheiro civil contratado pelo Movimento Luto por Bebedouro. As outras 13 casas tinham comprometimento regular, que quer dizer que o imóvel oferece risco, mas uma boa reforma e reparos estruturais podem sanar o problema.
Os dados detalhados desta inspeção por amostragem e os laudos feitos pelo engenheiro foram entregues ao Ministério Público Federal (MPF) na semana passada, acompanhado de um abaixo assinado com centenas de assinaturas de moradores e empreendedores das duas localidades, pedindo uma audiência junto ao órgão ministerial. A ideia é que o MPF auxilie as famílias para que seus imóveis (que sofreram avarias pelo processo de mineração da Braskem) possam ser incluídos não somente no mapa de risco, mas também na lista de indenizações a serem pagas pela empresa.
“Essa inspeção foi uma amostra da situação de mais de 1 mil imóveis. A Defesa Civil precisa vistoriar adequadamente e incluir essas casas na área de risco 00, mas grande parte de Bebedouro está ainda na área de criticidade 01, quando deveria estar na 00, conforme nota técnica da CPRM, como já estão o Pinheiro, Mutange e o Bom Parto. As rachaduras, fissuras, afundamento de solo entre outros problemas nas estruturas são, segundo os laudos, semelhantes aos dos outros bairros e com ocorrência da mesma época. Lembrando ainda, nem o Flexal de Cima e nem o Flexal de Baixo estão no mapa de risco da Defesa Civil. Essa inconsistência precisa ser corrigida”, afirma Israel Lessa, morador do bairro, ex-superintendente Regional do Trabalho e representante do Movimento Luto por Bebedouro.
“É só ir até lá e ver o quanto as famílias estão sofrendo, com medo de que suas casas desabem e sem ter para onde ir, tudo isso no meio de uma pandemia de um vírus para o qual ainda não há uma vacina comprovadamente eficaz. Os empreendedores sofrem duplamente: os imóveis avariados e a perda de demanda, já que muita gente das imediações se mudou e moradores de outras localidades que já costumavam comprar em Bebedouro pelo preço e qualidade dos produtos, deixaram de frequentar o local por causa do medo”, completa Israel Lessa.
Com o documento devidamente protocolado e o MPF ciente da situação, o Luto por Bebedouro aguarda o dia da audiência e espera que a CPRM seja convocada imediatamente para realizar os estudos de solo e apontar a real causa dos problemas apresentados nas estruturas dessas residências. Esse novo passo representa um alento para os moradores e empreendedores do Flexal de Cima e de Baixo.
“Até agora parecia que nós éramos invisíveis para o poder público. Eu já tinha procurado a Defesa Civil, não tive resposta e não sabia mais a quem recorrer. Minha casa pode desabar sobre a minha cabeça e eu não tenho para onde ir”, diz Graça França, proprietária de uma das casas classificadas como em estado crítico.
A dona de casa Joselma Evaristo também teve a casa classificada como com comprometimento crítico. “Tem rachaduras, fissuras, trincas por todo lado. O piso da sala está cedendo e ouço estalos direto. Cada estalo parece que a casa vai cair. Eu tenho muito medo de que esse telhado caia em cima de mim e da minha família. Estou até tomando remédio para tentar ficar mais calma”, desabafa.
No laudo, o engenheiro mostrou preocupação, lembrando que, por muitas casas serem geminadas (uma colada à outra), alguns problemas na estrutura podem ter sua gravidade mascarada e recomenda fortemente que: “as autoridades locais sejam acionadas para descobrir qual é a real causa desses recalques de fundação, comuns a tantas casas em uma mesma região e se o problema representa um risco crescente à população local para que as autoridades possam tomar as medidas cabíveis”.
Confira os laudos