Edvaldo Gonçalves, coordenador estadual do Movimento Nacional de Lutas da População em Situação de Rua, destaca que existe uma descrença em relação à capacidade dessas pessoas se mobilizarem. Segundo ele, o movimento é “atípico” por não possuir recursos e sobreviver apenas pela força e vontade. Antigamente, quando os celulares ainda não existiam, a principal forma de comunicação era através do boca a boca, estratégia que ainda é utilizada pela parcela significativa desse grupo.
O estereótipo da pessoa em situação de rua precisa ser desconstruído. Gonçalves ressalta que é comum associar a imagem de uma pessoa suja e alcoólatra àqueles que vivem nas ruas, mas isso não reflete a realidade. Ele argumenta que quem anda nessas condições geralmente possui algum transtorno mental e que a rua é bastante diversa. A aversão a pessoas pobres, conhecida como aporofobia, está cada vez mais presente em municípios onde a direita predomina, o que tem sido contestado por figuras como o padre Júlio Lancelotti, que trabalha incansavelmente em um projeto na capital paulista em apoio aos moradores de rua.
A luta pela moradia é essencial para combater a marginalização da população em situação de rua. Segundo Gonçalves, a presença ou ausência de moradia é o que define o tratamento dado a cada pessoa. Ele questiona se aquele que usa drogas e possui uma casa é melhor do que aquele que usa nas ruas, ou se o que rouba e possui uma casa não é considerado um ladrão. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que existem 11,4 milhões de imóveis vazios em todo o país, sendo que apenas na cidade de São Paulo são cerca de 590 mil imóveis vagos, quase 20 vezes mais do que o número de indivíduos em situação de rua.
No encontro que reunirá lideranças de todo o Brasil, marcado para acontecer de 27 a 29 de outubro em Praia Grande, na Baixada Santista, será discutido o papel do estado e da sociedade na garantia dos direitos dessas pessoas. É necessário que as autoridades compreendam a importância de aprimorar as dinâmicas nesse contexto e proporcionar serviços eficientes para ajudar a população em situação de rua a sair dessa condição e recuperar sua dignidade. A luta por políticas públicas que garantam a moradia e o bem-estar dessas pessoas deve ser uma prioridade em nosso país.