BRASIL – Movimento sugere que o governo priorize a atenção às mulheres.

No estado de São Paulo, a dinâmica em torno da população em situação de rua apresenta diferentes contornos conforme a paisagem vai mudando. Essa observação é feita pela assistente social Claudia de Brito Araújo, que trabalha na área há quatro anos, tendo experiência em Praia Grande e São Vicente, no litoral do estado.

Claudia destaca que cada município possui suas particularidades e que a presença da praia já impacta nas relações e nos fluxos de pessoas. Na Baixada Santista, por exemplo, as oscilações no número de indivíduos sem moradia ocorrem não apenas entre os turistas e veranistas, mas também entre aqueles que acabam nas ruas.

No entanto, ela ressalta que a realidade na Baixada Santista é diferente da capital, principalmente devido ao clima e à sazonalidade da população. Durante a temporada, muitas pessoas descem para o litoral e passam as férias em situação de rua, o que acaba gerando diversos julgamentos. Claudia menciona também a mentalidade conservadora da região e a falta de políticas públicas adequadas como obstáculos para realizar ações efetivas.

Claudia enfatiza que um dos entraves para discutir a população em situação de rua é a tendência da sociedade em culpar os indivíduos por sua condição, quando na verdade é um problema social influenciado pelas desigualdades sociais. Ela defende a importância de oferecer apoio e não somente ajuda para essas pessoas.

Um exemplo de superação e luta é Laura Dias, nascida em Santos, que enfrentou problemas com o uso de crack, álcool e cocaína por duas décadas. Laura, que ficou sem moradia em determinado período, se tornou uma liderança no movimento da população em situação de rua. Ela relata ter sofrido violência e ser tratada com desrespeito durante esse período, mas hoje busca ter influência por meio do ativismo social.

Laura também compartilha sua experiência de estar grávida enquanto vivia nas ruas. Ela conta que tinha medo de procurar ajuda para verificar seu estado de saúde, pois temia que tirassem seu filho por considerá-la uma dependente química. Ela relata a falta de apoio às mulheres em situação de rua e a necessidade de enfrentar essa realidade.

Já na cidade de São Paulo, segundo dados da prefeitura, a população em situação de rua é de aproximadamente 31.884 pessoas. Um dos desafios encontrados é a região da Cracolândia, que exige uma melhor compreensão por parte do poder público sobre quais ações de redução de danos são efetivas. Há críticas ao encaminhamento dessas pessoas para comunidades terapêuticas.

Movimentos sociais frequentemente questionam a forma como o poder público lida com a situação da Cracolândia, que é preferencialmente chamada de Nova Luz por parte da população em situação de rua. Nesse contexto, a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social destaca que o Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas acolheu cerca de 1,3 mil usuários em 2021, oferecendo tratamento em comunidades e casas terapêuticas.

Além disso, foi inaugurado o Espaço Prevenir, um serviço destinado às famílias de dependentes químicos e àqueles que concluíram ou estão finalizando o tratamento. O objetivo é prevenir recaídas e manter os vínculos familiares. O serviço já está funcionando em algumas cidades do estado de São Paulo, sendo inaugurado em breve na capital.

Em suma, as dinâmicas em torno da população em situação de rua variam conforme o local e apresentam desafios específicos. É fundamental que sejam implementadas políticas públicas efetivas e baseadas na redução de danos, além de combater o estigma e a culpabilização dessas pessoas, reconhecendo que a situação de rua é uma questão social que merece apoio e intervenções adequadas.

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