Mais de 20 nações já manifestaram formalmente interesse em integrar o Brics, como o Irã, Arábia Saudita e Argentina. No entanto, para o coordenador do Grupo de Estudos sobre o Brics (Gebrics) da USP, Paulo Borba Casella, a inclusão de novos países pode atrapalhar os trabalhos do grupo. Ele argumenta que a ampliação pode paralisar e bagunçar a agenda que até então estava funcionando bem. Além disso, Casella acredita que uma aliança marcada pela oposição aos Estados Unidos e à União Europeia não traz vantagens para o Brasil, visto que pode gerar conflitos com parceiros comerciais importantes.
Já o professor Alcides Cunha Costa Vaz, da Universidade de Brasília, acredita que a discussão sobre a ampliação do Brics mostra a necessidade de vitalidade do bloco, mas alerta para as dificuldades que a inclusão de novos membros pode trazer. Segundo ele, quanto mais países fazem parte do grupo, mais complexo se torna o processo decisório e a busca por consensos.
Para a especialista em China Larissa Wachholz, o sucesso da expansão do bloco depende da forma como ela será concretizada. Ela destaca a importância de pensar em um processo de expansão condizente com os objetivos a serem alcançados, seja no comércio ou no financiamento. É necessário que os países interessados em aderir tenham uma compreensão similar, para evitar divergências futuras.
Apesar das vantagens econômicas que uma possível ampliação do grupo pode trazer para o Brasil, como a expansão de mercados e a cooperação em áreas como desenvolvimento sustentável e tecnologia, a entrada de novos membros também pode resultar em divergências de interesses e prioridades, além de complexificar a cooperação entre os países.
Outro assunto em pauta na Cúpula do Brics é a possibilidade da criação de uma unidade de valor comum nas transações comerciais e de investimentos entre os membros do bloco. Para Larissa Wachholz, essa criação é bem-vinda, pois fortalece o comércio internacional. No entanto, Paulo Borba Casella ressalta que o mais importante é que essa unidade funcione na prática e seja aceita pelo mercado.
De acordo com o governo brasileiro, a discussão sobre a unidade de valor comum ainda está em estágio inicial e não visa substituir as moedas nacionais, mas sim oferecer uma alternativa estável às moedas internacionais predominantes.
Além da discussão sobre ampliação e unidade de valor comum, a Cúpula do Brics também abordará temas como aprimoramento da governança global, recuperação econômica, cooperação entre países em desenvolvimento, combate à fome, mudança do clima e transição energética.
Apesar dos desafios e tensões geopolíticas, a cúpula representa uma oportunidade para fortalecer a cooperação entre os países membros e definir o futuro do grupo. A forma como os países do Brics enfrentarão esses desafios ainda está por ser determinada, mas o evento atual é um passo importante nesse processo.