BRASIL – Itamar Vieira afirma que o falecimento de Bernadete evidencia a face sombria do Brasil, em declaração impactante.

O Brasil novamente é palco de um assassinato brutal e chocante, desta vez de uma líder quilombola de 72 anos de idade. Bernadete Pacífico foi morta em Simões Filho, na Bahia, na semana passada, evidenciando a face perversa e hostil do país em relação aos seus cidadãos. Essa é a avaliação do escritor Itamar Vieira Junior, conhecido por sua obra premiada “Torto Arado”, que retrata a opressão e a violência no campo.

Vieira Junior, que também é servidor licenciado do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), lançou este ano o livro “Salvar o Fogo”, que mantém a temática rural. Ele está participando do Festival Literário de Paracatu (Fliparacatu) e fará uma palestra ao lado do escritor moçambicano Mia Couto e da autora brasileira Paulliny Tort.

O escritor expressou sua indignação com a hostilidade e a falta de tolerância do Brasil em relação a suas lideranças e à diversidade. “É um país que não sabe viver com toda a diversidade que todos nós temos. O que aconteceu com Bernadete é muito lamentável”, afirmou ele em entrevista à Agência Brasil.

Vieira Junior ressaltou que a violência contra comunidades quilombolas e indígenas é recorrente na história do Brasil. Ele denunciou a falta de políticas públicas e de investigação por parte das instituições para enfrentar esses crimes e atentados contra líderes populares. Ele lembrou o caso de Mãe Bernadete, que teve seu filho assassinado há seis anos, um episódio que jamais foi esclarecido. Ele enfatizou que a falta de respostas levou embora mais uma pessoa importante que conduzia sua comunidade.

Para Vieira Junior, a literatura é também uma forma de fazer política e de refletir sobre o mundo em que vivemos. Além disso, ela funciona como um testemunho do tempo e do lugar em que vivemos. Suas obras têm como objetivo provocar reflexões sobre questões de violência social invisibilizadas, principalmente na questão agrária.

Durante o Festival Literário de Paracatu, o autor falará sobre a importância das palavras como forma de libertação e como símbolos de eventos, situações e sentimentos. Ele defende que a população brasileira deve buscar conhecer e reconhecer várias facetas de sua história para se tornar mais acolhedora e menos violenta diante da grande diversidade racial e cultural do país.

Vieira Junior ressalta ainda a importância de levar a cultura e a democratização cultural para todas as regiões do Brasil. Ele elogia o festival literário em Paracatu, que mobiliza as pessoas e traz cultura para a cidade histórica, e acredita que eventos como esse são essenciais para democratizar o acesso à cultura. Para ele, o direito à cultura é um direito humano fundamental.

O escritor também expressa seu entusiasmo em participar do festival ao lado de grandes mestres como Mia Couto e Conceição Evaristo, que o inspiram e ajudam a refletir sobre a literatura brasileira. Para ele, é importante valorizar a potência criativa de escritores populares de todas as regiões do país.

O assassinato de Bernadete Pacífico é mais um exemplo triste da violência e da falta de respeito às lideranças populares no Brasil. É necessário combater essas injustiças, fortalecer as políticas públicas e garantir a liberdade e a segurança dos defensores dos direitos humanos no país. A literatura também tem um papel crucial na denúncia desses crimes e na conscientização da sociedade para a importância da diversidade e do respeito mútuo.

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