Segundo a especialista, muitas mortes são registradas como acidentes, quando, na verdade, são casos de suicídio. Pfeiffer explica que algumas situações, como quedas ou o consumo excessivo de medicamentos, podem esconder o verdadeiro desejo de morrer por parte da criança ou adolescente.
Ao longo do período analisado, o Brasil registrou um total de 9.954 casos de suicídio ou morte por lesões autoprovocadas intencionalmente. “Todo dia morrem três crianças por suicídio no Brasil”, alerta Luci Pfeiffer. Ela ressalta a existência de estímulos nas redes sociais que promovem a autoagressão e o suicídio como uma forma de escape. Por isso, é importante falar sobre o assunto e conhecer os sinais de alerta para procurar ajuda.
A maioria dos casos de suicídio está concentrada entre os adolescentes. Dos 9.954 registros, 84,29% ocorreram na faixa etária de 15 a 19 anos, enquanto 15,71% correspondem à faixa de 10 a 14 anos. A especialista destaca que essa faixa etária, até os 26 anos, apresenta o maior número de casos não apenas no Brasil, mas também em todo o mundo.
De acordo com os dados levantados pela SBP, os meninos são mais propensos a cometer suicídio do que as meninas. Durante a série histórica, os homens representaram 68,32% dos casos, enquanto as mulheres corresponderam a 31,68%. Em relação à distribuição geográfica, os estados com as maiores taxas de suicídio entre crianças e adolescentes são São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Amazonas.
Luci Pfeiffer ressalta que há uma grande falha nos registros das tentativas de suicídio. Ela alerta que é raro uma criança ou adolescente chegar à morte na primeira tentativa e afirma que esses episódios devem ser levados a sério. A especialista destaca a importância da prevenção secundária, ou seja, identificar os sinais de alerta e buscar ajuda antes que a situação se agrave.
A violência intrafamiliar é apontada como um dos fatores de risco para o suicídio nessa faixa etária. Luci Pfeiffer explica que não se trata apenas de espancamentos, mas também de agressões verbais que afetam a criança emocionalmente. Ela afirma que existe uma falta de amor e acolhimento por parte dos pais, o que afeta negativamente o desenvolvimento da personalidade.
A especialista destaca a importância de estabelecer vínculos reais entre pais e filhos, pois muitos pais só percebem o desejo de morrer dos filhos quando ocorre a primeira tentativa de suicídio. Ela ressalta que há sinais de alerta que podem indicar que a criança está enfrentando dificuldades, como tristeza constante e falta de interesse em atividades que antes eram prazerosas.
A especialista alerta que o isolamento é um dos primeiros sinais de que a criança está sofrendo. Ela se afasta dos amigos, das atividades que lhe traziam felicidade e começa a se envolver em comportamentos de risco, como automutilação e distúrbios alimentares. Luci Pfeiffer afirma que o suicídio na infância e adolescência é causado por uma combinação de fatores, incluindo problemas familiares, desenvolvimento pessoal e pressões externas.
Ela ressalta que as mídias e redes sociais têm um papel influente nesse contexto. Elas não apenas estimulam a autoagressão, mas também impõem padrões de normalidade que colocam pressão sobre crianças desde os sete ou oito anos de idade. Essas exigências são contrapostas à realidade familiar e escolar, levando a criança ou adolescente a considerar o suicídio como uma saída.
A proteção das crianças e adolescentes em relação às mídias sociais ainda é uma questão que precisa ser abordada no Brasil. A SBP lamenta a falta de leis que protejam essa população dos conteúdos que estimulam o suicídio. A recomendação da especialista é que, ao identificar os primeiros sinais de sofrimento psíquico, os pais busquem ajuda profissional, incluindo pediatras, psicólogos e psiquiatras. Além disso, é importante acionar a rede de proteção, como escola e unidades de assistência à saúde, para criar um suporte adequado e evitar a perda de vidas preciosas.