Segundo a médica reumatologista Selma da Costa Silva Merenlender, integrante da Comissão de Mídias da Sociedade Brasileira de Reumatologia, a cannabis é uma planta utilizada pelo ser humano há aproximadamente 13 mil anos. O principal produto com indicação medicinal é o canabidiol (CBD), que não causa dependência. Já o THC, presente nas folhas e nos caules da planta, é o componente responsável pelos efeitos psicoativos da maconha.
O uso da cannabis tem sido sugerido para o tratamento de diversas doenças, como a epilepsia refratária, que já conta com estudos mais avançados e tem apresentado bons resultados. Além disso, existem evidências científicas sobre o uso da cannabis medicinal no tratamento de indicações neurológicas, reumatológicas, imunológicas, controle de peso, ansiedade e depressão.
No caso das doenças reumáticas, a cannabis medicinal está sendo indicada para o tratamento da fibromialgia, artrite reumatoide, espondilite anquilosante e psoríase. A substância não apenas alivia a dor, mas também equilibra o organismo e melhora a qualidade de vida do paciente.
No entanto, o assunto ainda é polêmico. Apesar de relatos de pacientes que afirmam obter melhorias significativas na qualidade de vida com o uso da cannabis medicinal, há poucos estudos científicos que comprovem seus benefícios e riscos. A médica Alessandra de Sousa Braz, integrante da Comissão de Dor, Reumatismo de Partes Moles e Fibromialgia da Sociedade Brasileira de Reumatologia, destaca a importância de avaliar prós e contras antes de prescrever qualquer medicamento na área da reumatologia.
No Brasil, o uso da cannabis medicinal não é livre, sendo necessária a prescrição médica. Atualmente, existem apenas três formas de acesso ao canabidiol: em farmácias, por meio de associações ou por importação. Não há uma política de fornecimento gratuito de produtos à base de canabidiol pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas projetos estão em discussão no Congresso Nacional para garantir o acesso aos pacientes que necessitam dessas terapias.
A falta de estudos mais aprofundados sobre os efeitos da cannabis medicinal, especialmente no tratamento da dor e nos efeitos colaterais a longo prazo, é uma preocupação da médica Alessandra de Sousa Braz. Ela ressalta a importância de se conhecer a dose, o miligrama e a posologia correta para estimular o uso adequado da substância.
Apesar das controvérsias, há relatos de pacientes que encontraram alívio para suas dores com o uso da cannabis medicinal. Silmara Marques Pereira de Souza conta que sua filha, de 13 anos, sofre de lúpus, artrite reumatoide e doença de Crohn e que o uso da substância complementou o tratamento convencional, reduzindo dores e melhorando o sono. No entanto, ainda há muito a ser pesquisado sobre os efeitos e benefícios da cannabis medicinal para o tratamento da dor em doenças reumáticas.