A campanha Vem pra Uro!, realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), destaca a importância de avaliar a saúde do homem desde a idade mais tenra e inclui as pessoas designadas como sexo masculino ao nascer, mas que passam a se identificar com o sexo feminino, como é o caso das mulheres trans.
Ubirajara Barroso Jr. ressalta que muitos homens trans precisam de cuidado ginecológico, porque persistem com vagina, útero, trompa e ovários, acabam submetendo-se à correção cirúrgica, com reconstrução de um falo, e passam a penetrar, ficando sujeitos a riscos de alterações urinárias pela reconstrução da uretra e de infecções sexualmente transmissíveis.
No caso da mulher trans, apesar do sexo designado ao nascer ser o masculino, todas mantêm a glândula prostática, que não é abordada no procedimento cirúrgico. Elas também podem ter pênis ainda, e casos de má higiene da genitália e laceração da pele por amarrarem o pênis para escondê-lo podem provocar irritações, um fator de risco para o câncer.
Estudos mostram que há relatos de cânceres de próstata com presença de metástase entre pessoas trans, muitas vezes devido ao mau acesso à saúde e à desinformação. Por isso, a detecção precoce é essencial.
A campanha é importante pois, muitas mulheres trans acabam evitando o Sistema Único de Saúde (SUS) por medo de preconceitos, e a conscientização sobre a saúde do homem deve ser mais abrangente e inclusiva, não focando somente na prevenção do câncer de próstata, mas também na conscientização das necessidades de cuidados com a saúde das pessoas trans.
Keila Simpson, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), afirma que é necessário ter campanhas orientando as pessoas a cuidarem da saúde durante todo o ano e que campanhas específicas podem ser restritivas, levando as mulheres trans a não se sentirem incluídas. Uma das ações sugeridas por ela é a criação de espaços neutros, em que toda a população, incluindo mulheres trans, possam ser atendidas.
Carlos Carvalhal, urologista e oncologista, membro da SBU e médico do Hospital São Francisco na Providência de Deus, enfatiza a importância de garantir que as pessoas trans sejam acolhidas da mesma forma que qualquer outro paciente, por todos os profissionais da área. Ele ressalta que, independentemente da escolha de como a pessoa vai se relacionar com o mundo, os profissionais da saúde devem fazer o mesmo trabalho com todos.
Assim, a campanha Novembro Azul, que antes tinha foco apenas nos homens cis, agora tem uma abordagem mais inclusiva, englobando também as necessidades específicas de cuidados com a saúde das mulheres trans.