BRASIL – Acervo fotográfico do ativista negro Januário Garcia será preservado e difundido por instituições renomadas, incluindo IMS e AEL.

Este ano celebra-se o que seria o 80º aniversário do fotógrafo e ativista negro Januário Garcia, um marco que será comemorado com a preservação e divulgação dos seus arquivos por duas instituições culturais. O Instituto Moreira Salles (IMS) será responsável pela conservação da produção fotográfica do artista, enquanto o Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), irá manter a guarda dos documentos reunidos por Januário durante a sua atuação no movimento negro. O objetivo dessas duas instituições é trabalhar em conjunto para formar um arquivo arquivístico único, e futuramente, as fotografias e os documentos digitalizados farão parte das bases de dados de ambas.

Sergio Burgi, o coordenador de Fotografia do IMS, revelou à Agência Brasil que, nos próximos dois anos, a intenção é processar o arquivo para que, entre o final de 2025 e o início de 2026, seja possível criar um projeto de leitura abrangente das diversas áreas em que Januário Garcia atuou, visando apresentar o artista ao público. A exposição será construída a partir das perspectivas de pessoas com as quais ele conviveu e trabalhou. Ademais, um conselho consultivo foi criado para acompanhar todos os trabalhos relacionados ao acervo, em parceria com a família de Garcia e o AEL, com o intuito de ampliar a leitura do ponto de vista expositivo.

Nascido em Belo Horizonte, Januário Garcia faleceu no Rio de Janeiro em 30 de junho de 2021. Sua formação incluiu um diploma em comunicação visual pela International Camaramen School, com estágio no Studio Gamma sob a orientação do fotógrafo George Racz, bem como cursos de extensão em arte visual, história da arte e videomaker.

Ao longo da sua carreira, ele produziu um dos registros mais importantes do ativismo e da cultura negra brasileira no século 20. Documentou marchas e manifestações organizadas pelo movimento negro, além de personalidades centrais como Lélia González e Abdias do Nascimento. Também foi presidente do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) e membro do Conselho Memorial Zumbi, deixando para trás um acervo com mais de 100 mil fotos.

Além de atuar no fotojornalismo e na indústria fonográfica, Januário também deixou sua marca no mercado publicitário, assinando capas de álbuns de músicos renomados como Leci Brandão, Tom Jobim, Belchior e Raul Seixas. Como o próprio afirmou, sua paixão pela imagem começou quando era criança e teve a oportunidade de trabalhar com a fotografia.

A avaliação do IMS é que a importância de Januário Garcia para a fotografia brasileira é enorme, pois não só teve uma carreira profissional significativa, mas também foi um líder no movimento negro, mostrando uma unidade entre seus trabalhos autorais e sua militância.

Vilma Neres, fotógrafa e especialista em Januário Garcia, destaca a importância do “mestre” na construção da memória sobre os movimentos negros e as pessoas negras, retratando a humanidade negra em diferentes situações, não se prendendo apenas aos aspectos de violência e degradação. Ela ressalta que Januário Garcia é uma figura importante por mostrar a diversidade da população negra e por fugir dos estereótipos negativos.

O Instituto Moreira Salles pretende expandir as suas instalações na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro, até 2027, de forma a promover uma maior integração dos espaços e a trabalhar em parceria com outros equipamentos culturais da cidade para a realização de exposições e projetos culturais.

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