Uma das participantes do evento foi Lia Katz, que nos anos 60 militava em defesa da democracia e participava de reuniões do movimento feminista na cidade de São Paulo. Os encontros se intensificaram em 1975, durante o Ano Internacional da Mulher, quando a primeira Conferência Mundial da Mulher foi realizada sob o lema “Igualdade, Desenvolvimento e Paz”. Jornais feministas como Nós Mulheres, Mulherio e Brasil Mulher ganharam destaque nesse período.
A volta de Lia ao Brasil em 1975, após cinco anos de exílio na França, coincidiu com o nascimento de sua filha. Durante o exílio, ela teve a oportunidade de avaliar o que estava acontecendo no Brasil e desenvolver uma consciência mais elaborada sobre a situação do país.
Em entrevista, Lia relembra os tempos de perseguição e como era difícil manter as publicações feministas em circulação, uma vez que ninguém tinha recursos financeiros. Mesmo com a pressão da censura, as mulheres conseguiam produzir pautas e matérias importantes, destacando questões como o direito à creche e os desafios enfrentados pelas mulheres trabalhadoras.
No entanto, a questão do racismo estrutural não era discutida naquela época. Segundo Lia, geralmente eram abordados temas que envolviam mulheres brancas, e o feminismo plural só veio ser debatido posteriormente. Ela também menciona que não havia representação significativa de mulheres negras e lésbicas nos grupos da época.
Apesar das dificuldades, as publicações feministas contavam com o apoio de figuras como a cantora Elis Regina, que chegou a patrocinar números dos jornais. Quanto à censura, Lia afirma que, embora não se lembre de detalhes, recorda-se do momento em que a redação do jornal Versus, localizada em um porão, foi utilizada para evitar a interferência dos censores.
O evento realizado no Memorial da Resistência trouxe à tona histórias de coragem e resistência por parte dessas mulheres, que enfrentaram grandes desafios em um período marcado pela repressão e pelo autoritarismo. Suas lutas e conquistas continuam inspirando gerações e ressaltam a importância de manter viva a memória desse período da história.