Esses trágicos acontecimentos são um reflexo da disputa pelo controle da principal milícia da zona oeste da cidade do Rio Janeiro, que teve seu início após a morte de Wellington da Silva Braga, mais conhecido como Ecko, em 2021. A situação se acentuou com a prisão de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, irmão e sucessor de Ecko, em dezembro de 2023.
Esta disputa tem gerado confrontos armados em comunidades controladas por milicianos, ameaçando não apenas as vidas dos rivais, mas também a segurança dos moradores dessas áreas. Para especialistas, um efetivo combate às milícias demanda a desarticulação dos esquemas de proteção que contam com a participação de agentes do Estado e políticos.
O que tem sido percebido é que, apesar do impacto das prisões e mortes de lideranças operacionais desses grupos criminosos, como Ecko e Zinho, não resolve a situação e apenas abre espaço para mais conflitos armados pela disputa do controle territorial. É preciso atacar as estruturas superiores que permitem a manutenção desse sistema. Segundo especialistas, a justiça precisa ir além do “varejo da atividade criminosa”.
A relação das milícias com a polícia e os políticos é histórica e estas organizações criminosas já dominavam 58,6% de todos os territórios controlados por facções criminosas na cidade do Rio. As operações policiais em áreas de milícia representam apenas 6,5% do total, enquanto as outras 93,5% ações ocorreram em comunidades dominadas por facções especializadas no tráfico de drogas ou em regiões em disputa.
A Polícia Civil fluminense informou que tem atuação constante de combate às milícias. De acordo com a instituição, várias lideranças criminosas foram presas ou mortas em confronto, e diversos estabelecimentos ilegais foram fechados, incluindo centrais clandestinas de internet e TV a cabo, depósitos de gás, farmácias e fábricas de bebidas. Também foram apreendidas centenas de armas e milhares de munições, causando um prejuízo de mais de R$ 2,5 bilhões para as organizações criminosas.
A situação das milícias envolve uma complexidade que vai além das prisões e mortes de lideranças operacionais. É necessário um amplo enfrentamento que desmonte as raízes políticas e estruturais desses grupos criminosos, para que a segurança e tranquilidade das comunidades possam ser, de fato, restabelecidas.