BRASIL – Fotógrafos desafiam Figueiredo: “Máquinas ao chão” entra para história da cobertura política durante a ditadura no Brasil

Nos corredores do Palácio do Planalto, um gesto de ousadia ecoou há mais de quatro décadas, deixando um marco na história da cobertura política durante a ditadura no Brasil. No último domingo, celebrando o Dia do Jornalista, episódios como esse, conhecido como “Máquinas ao chão”, são lembrados e enaltecidos.

Foi em 24 de janeiro de 1984, quase duas décadas após o golpe de 1964 e já no final do regime ditatorial, que os fotógrafos presentes se recusaram a capturar imagens do então presidente João Figueiredo. O conflito surgiu após uma série de desentendimentos entre o general e os profissionais da imagem, que rotineiramente reclamavam do tratamento dispensado pelo presidente.

Um dos embates notáveis ocorreu durante a visita do deputado federal Paulo Maluf ao presidente Figueiredo. Ao ser sugerido um sorriso para a fotografia, a resposta do general foi clara: “Estou na minha casa. Sorrio quando quiser”. Situações como essa se somavam, criando um clima de tensão constante.

A gota d’água para os fotógrafos credenciados no Palácio do Planalto veio quando, após relatarem o conteúdo de uma reunião aos repórteres de texto, esses profissionais foram proibidos de ter acesso ao gabinete presidencial. A restrição se tornou insustentável, culminando no emblemático episódio em que as câmeras foram deliberadamente posicionadas no chão no momento em que Figueiredo descia a rampa.

Essa atitude de resistência dos fotógrafos, que incluía profissionais renomados como Sérgio Marques e Wilson Pedrosa, foi posteriormente registrada no documentário “A Culpa é da foto”, lançado em 2015 e disponível online. O diretor do filme, Joédson Alves, destaca a importância desse evento como um símbolo de bravura e determinação para os jornalistas brasileiros.

O gesto corajoso dos profissionais presentes naquele dia ecoa até os dias atuais, servindo como um exemplo de resistência e integridade na busca pela verdade e pela liberdade de imprensa. A memória desses jornalistas que desafiaram um ditador permanece viva, inspirando futuras gerações de comunicadores a persistirem na defesa dos princípios éticos e da democracia.

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