De acordo com a análise do Ipea, a inflação das famílias de renda alta apresentou uma descompressão de 0,83% para 0,05% na passagem de fevereiro para março. Já as famílias de renda muito baixa tiveram uma desaceleração menos expressiva, passando de 0,78% para 0,22% no mesmo período.
A pesquisadora Maria Lameiras destaca que os preços dos alimentos no domicílio e dos combustíveis foram os principais responsáveis por esse alívio inflacionário em março. Além disso, as famílias de alta renda foram mais beneficiadas pela descompressão do grupo educação, que em fevereiro tinha sido impactado por reajustes nas mensalidades escolares.
Uma das razões para as diferentes percepções de inflação entre os grupos familiares está relacionada ao perfil de consumo de cada um. Enquanto os mais pobres têm um orçamento mais sensível a mudanças nos preços dos alimentos, as famílias mais endinheiradas sentem mais as alterações no custo de passagens aéreas, por exemplo. Em março, as passagens aéreas tiveram um recuo de 9,1%, beneficiando principalmente as famílias de alta renda.
No acumulado de 12 meses, houve uma inversão nos índices de inflação. As famílias de renda muito baixa perceberam um aumento de 3,25% no custo de vida, abaixo da média nacional de 3,93%. Já os lares com alta renda tiveram uma inflação de 4,77%. Nesse período, os alimentos foram os principais responsáveis pela inflação das famílias de menor renda, enquanto os transportes e a saúde foram os itens que mais impactaram as mais endinheiradas.
Esses dados evidenciam as discrepâncias econômicas e sociais existentes no país, revelando como a inflação afeta de maneira distinta os diferentes estratos da sociedade.