BRASIL – Governo de São Paulo amplia atribuições da Polícia Militar, gerando polêmica sobre investigações criminais e papel da Polícia Civil

O governo de Tarcísio de Freitas, em São Paulo, tem tomado medidas para aumentar as atribuições da Polícia Militar (PM) no estado. Recentemente, o governador anunciou a intenção de permitir que a PM passe a registrar termos circunstanciados, uma mudança que substituiria parcialmente os boletins de ocorrência feitos nas delegacias.

Essa decisão tem gerado polêmica, especialmente entre os órgãos responsáveis pela segurança pública. Operações recentes conduzidas pelo Ministério Público contaram apenas com o apoio da Polícia Militar, sem a participação da Polícia Civil, como foi o caso das operações Fim da Linha e Muditia. Tal situação tem levantado preocupações quanto à fragilização da segurança da população, de acordo com o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo.

A atribuição de poderes investigativos à Polícia Militar remonta à época da ditadura militar, mas com a promulgação da Constituição de 1988, essa função passou a ser exclusiva da Polícia Civil. Agora, o governo de São Paulo busca restituir parte desse poder à PM, permitindo que ela registre infrações com pena máxima de dois anos de detenção, como lesão corporal, posse de drogas e invasão de propriedade.

Críticos, como o advogado Almir Felitte, alertam para a crescente militarização da segurança pública no Brasil, destacando que a Polícia Militar tem assumido mais funções do que as originalmente previstas na Constituição. Para Felitte, essa tendência pode representar riscos para o Estado Democrático de Direito brasileiro, bem como fortalecer a presença política das polícias militares no país.

Diante dessas questões, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo justificou que a elaboração do termo circunstanciado de ocorrência (TCO) pela Polícia Militar está respaldada pela Lei Federal 9.099/95 e por decisões do Supremo Tribunal Federal. A medida já está em vigor em 17 estados brasileiros e visa dar mais agilidade ao atendimento ao cidadão, sem comprometer as atividades de policiamento preventivo e ostensivo.

A discussão em torno do aumento de poder da Polícia Militar em São Paulo reflete um debate mais amplo sobre o modelo de segurança pública adotado no país e a necessidade de um diálogo sobre a desmilitarização das polícias. Como apontado por Felitte, é fundamental refletir sobre que tipo de polícia se deseja para o Brasil, levando em consideração os riscos e impactos de um processo de militarização crescente nas instituições de segurança pública.

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