“Il potere logora chi non ce l’ha” (O poder desgasta quem não o tem) é um dos aforismos mais conhecidos na política italiana. Arthur Lira, atual presidente da Câmara dos Deputados, exemplifica bem este ditado. Com o controle da pauta legislativa e bilhões de reais em emendas parlamentares, Lira possui uma influência capaz de fazer qualquer governo sorrir ou chorar. No entanto, sua luta pelo poder vai além de seu atual cargo; ele busca garantir a continuação de sua influência ao eleger um sucessor fiel.
Nos últimos dias, Lira tem enfrentado críticas e acusações de opositores e analistas que apontam um possível favorecimento às máfias do crime organizado através de um projeto de lei que limita delações premiadas de presos. Após uma reportagem do O Antagonista, em 6 de junho, levantando essa questão, diversos jornais passaram a discutir o tema, sugerindo que Lira estaria beneficiando facções criminosas com o apoio de bolsonaristas, interessados na proteção de figuras do colarinho branco.
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Em 13 de junho, Malu Gaspar, do Globo, publicou uma matéria intitulada “Projeto antidelação une aliados de Lula e Bolsonaro em frente ampla a favor das máfias”. Na mesma linha, Marcelo Godoy, do Estadão, analisou em 17 de junho “O presente que Arthur Lira quer dar às cúpulas do PCC e da máfia italiana”.
Para o jornal, o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de São Paulo, classificou o projeto de lei como um “retrocesso” no combate ao crime organizado. Ele ressaltou que a delação premiada é, em muitas situações, a única maneira do Ministério Público obter provas cruciais. “A delação ou colaboração tem que ser voluntária, livre de qualquer coação, obviamente, acompanhada de advogado e homologada judicialmente. É usada há décadas com muito sucesso na Itália, nos casos das máfias, na Europa e nos EUA”, afirmou Gakiya.
O promotor citou os sucessos alcançados pelo Gaeco graças às delações premiadas, como na Operação Fim da Linha, que desmantelou uma rede de lavagem de dinheiro do PCC, e na Operação Ethos, que expôs a ‘Sintonia dos Gravatas’, grupo de advogados ligados à facção. Um exemplo chave foi a delação de Orlando Motta Junior, conhecido como Macarrão, que testemunhou contra integrantes do PCC após ser ameaçado de morte. Sua colaboração levou à condenação de importantes líderes do PCC, incluindo o chefe Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, sentenciado a 30 anos de prisão.
Roberto Soriano, o Tiriça, ex-número dois de Marcola e fundador da facção rival Primeiro Comando Puro, chegou a ameaçar Macarrão: “Se ele (Macarrão) ficar com esta palhaçada, nós vamos ‘derreter’ a família dele inteirinha.” A delação de Macarrão foi fundamental para que a justiça pudesse condenar líderes da organização criminosa e enfraquecer sua estrutura. Assim, a discussão em torno do projeto de lei que restringe as delações premiadas não só levanta questões sobre a segurança pública, mas também sobre os interesses políticos e o futuro da luta contra o crime organizado no Brasil. (Com informações do O Antagonista)