Machado de Assis é imortal não apenas porque fez parte da Academia Brasileira de Letras, tendo sido seu fundador e presidente. A imortalidade de Machado também vem do fato de que, mais de cem anos após sua morte, ele ainda vem despertando o interesse de tantas pessoas, em tantos lugares. Neste sentido, um vídeo de uma influencer dos Estados Unidos recentemente viralizou, colocando o romance “Memórias Póstumas de Brás Cubas” na lista dos mais vendidos da Amazon.
Mas você sabia que o maior nome da literatura brasileira também teve uma longa carreira no serviço público brasileiro, onde exerceu doze diferentes funções? Sim, entre 1856 (ainda no Império) e 1908 (já na República), Machado de Assis foi tipógrafo na Imprensa Oficial; ajudante do diretor do Diário Oficial; Censor Teatral no Conservatório Dramático Brasileiro; amauense (copista), primeiro oficial, chefe de seção, oficial de gabinete do ministro, diretor da Diretoria do Comércio, diretor da Diretoria Geral de Viação, secretário do ministro, diretor-geral da Secretaria da Indústria e diretor geral de contabilidade na Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e no Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas.
E por acaso você sabia que Machado de Assis, além de ter escrito romances e contos, passou várias décadas de sua vida publicando crônicas nos jornais sobre o cotidiano do Rio de Janeiro e do país? Foram mais de seiscentas crônicas, e, em muitas delas, Machado denuncia com muita ironia os desmandos da Administração Pública, faz críticas e cobranças às autoridades e se revela um profundo conhecedor das questões que envolvem o Estado, tudo isto sem nunca ter frequentado uma universidade.
A longa e movimentada trajetória do genial Machado de Assis no serviço público e as opiniões do maior escritor do país sobre os mais diversos temas do Direito Administrativo são os assuntos tratados pelo escritor Fábio Lins (professor da UFAL e Cesmac e Procurador do Estado de Alagoas) em seu novo livro, que acaba de ser publicado pela editora Fórum. “Machado de Assis e a administração pública. O serviço público na vida e na crônica machadiana” é o décimo terceiro livro individual de Fábio Lins, que já publicou obras sobre Graciliano Ramos, Pontes de Miranda, Raul Seixas e Nise da Silveira, sempre os relacionando-os às temáticas administrativas.
“Este livro interdisciplinar revela como o maior nome da literatura brasileira tinha uma profunda relação com a Administração Pública. Para demonstrar essa inusitada intimidade, o autor propõe-se a resolver duas tarefas: primeiramente, analisar a trajetória de Machado de Assis no serviço público, no qual atuou durante mais de quarenta anos em doze diferentes funções, das mais subalternas às mais relevantes. Nessa parte do livro, são apresentadas as características de Machado de Assis como servidor público, o que se conclui com uma surpreendente avaliação de seu desempenho. A segunda missão empreendida nesta obra é apresentar ao público e interpretar as opiniões de Machado de Assis, expostas em suas crônicas jornalísticas, sobre as mais diversas questões que envolvem a Administração Pública e o Direito Administrativo. Ao conhecer as citadas opiniões, cheias de humor e ironia, o leitor receberá valiosas lições e perceberá que Machado também foi um administrativista de altíssimo nível”, aponta o resumo do livro publicado pela Editora Fórum, de Belo Horizonte.
A apresentação do livro foi feita pelo professor Rodrigo Valgas, de Santa Catarina: “Nesse espírito de trazer novas luzes sobre a obra machadiana, Fábio Lins de Lessa Carvalho mais uma vez inova e nos traz um enfoque ainda pouco explorado: o serviço público na vida e na crônica machadiana. A escolha das crônicas para delas extrair uma maior compreensão da administração pública brasileira não poderia ter sido mais feliz. As crônicas são a parte da obra machadiana que mais carecem de estudos. Um dos grandes contributos do livro está em trabalhar essas crônicas sob um viés específico, não apenas sob o ângulo literário — o que já é um feito e tanto —, mas para lançar luzes na administração pública do século 19, visando compreender nossa realidade através do olhar de nosso grande escritor”.
Acrescenta Valgas em texto recém-publicado no site CONJUR que “Fábio também situa o leitor para compreender a administração pública brasileira no Segundo Reinado e na Primeira República, contextualizando factualmente e normativamente a vida de Machado naquele ambiente. Fornece elementos biográficos que nos auxiliam a entender a personalidade machadiana que não gostava de bajulações, ainda que cônscio de sua importância”
O prefácio do livro foi feito pela professora Irene Nohara, de São Paulo. Ela considera que “Essa escolha de Fábio Lins traz à tona uma faceta até agora obscura do “bruxo do Cosme Velho”, concentrada nas diversas crônicas (mais de seiscentas) que ele publicou nos jornais de 1859 até 1900, atraindo o olhar do Direito na Literatura (Law in Literature) para aspectos ainda não tão garimpados e remexidos da produção e da vida de Machado de Assis, quer seja em suas crônicas, que refletiam suas percepções reais da sociedade da metade do século XIX, assim como na sua pouco divulgada atuação como agente público, cobrindo, portanto, um ponto cego da abordagem machadiana. Nesta perspectiva, Fábio Lins, que já produz enorme bibliografia sobre as facetas dos principais autores da literatura brasileira e sua percepção da Administração Pública, incluindo a vinculação com o funcionalismo público, faz um trabalho inspirado de verdadeiro “catador de conchas”, pois não apenas descreve com dados o vínculo de Machado de Assis com a Administração Pública, trazendo relatos até daqueles que com ele desenvolveram funções, como Francisco Glicério, mas sobretudo coleta excertos das centenas de crônicas de Machado que demonstram a opinião do autor sobre inúmeros temas associados ao Direito Administrativo. Fábio Lins coleta as “conchas” como pérolas que encontra na areia da vasta produção machadiana, sendo as crônicas momentos em que o leitor pode conhecer mais de perto algo que nem sempre a literatura revela de achado: a verdadeira opinião do autor sobre questões pontuais da vida social do Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX. Ademais, Fábio Lins faz seu trabalho de catador de conchas não apenas como seu principal hobby de jurista das Alagoas, que aprecia e se dedica à arte e à literatura, mas também como pesquisador, sendo então proporcionadas verdadeiras joias de achados científicos que trazem mais colorido e variedade para a imagem que tradicionalmente se construiu de Machado de Assis”.
O livro já está à venda no site da editora Fórum e também pode ser adquirido com valor promocional de lançamento diretamente com o autor (82-996623434). O lançamento será no dia 03 de agosto, a partir das 16:30, na pracinha central do Mercado das Artes 31, em Jaraguá. Todos convidados!