Apesar de ser um acontecimento pouco conhecido, a Batalha da Sé teve um impacto significativo na história do país, sendo decisiva para os rumos da política sob a presidência de Getúlio Vargas. Na época, as tensões ideológicas entre grupos tão distintos como socialistas, anarcossindicalistas, comunistas e democratas se confrontaram com a Ação Integralista Brasileira (AIB), liderada por Plínio Salgado.
O resultado dessa batalha foi a morte do jovem líder comunista Décio de Oliveira e vários feridos, incluindo membros das forças policiais alinhadas aos integralistas, conhecidos como “galinhas verdes” devido à cor de seus uniformes. Os integralistas foram obrigados a fugir pelas ruas de São Paulo, deixando para trás um rastro de camisas espalhadas.
O historiador marxista Eric Hobsbawn, em seu livro “A era dos extremos”, destaca a importância dos movimentos políticos do século passado, marcado por experimentos políticos radicais em diversas partes do mundo. No Brasil, a Batalha da Sé foi um dos acontecimentos mais emblemáticos do antifascismo brasileiro, unindo diferentes grupos e correntes políticas em uma ação direta contra o integralismo.
Entrevistado pela Agência Brasil, o sociólogo Fabio Mascaro Querido ressaltou a relevância desse episódio no contexto político da época, contribuindo para o enfraquecimento da AIB e impedindo a tentativa de Vargas de instaurar um regime autoritário com o apoio dos integralistas.
Ao estabelecer comparações entre o extremismo de direita do passado e a atual onda reacionária, Fabio Mascaro destacou algumas semelhanças e diferenças. Enquanto o fascismo histórico buscava subverter radicalmente o status quo, a extrema-direita contemporânea desafia as regras democráticas sem propor uma mudança estrutural do sistema.
No cenário político atual, as esquerdas têm enfrentado um declínio em sua capacidade de dialogar com a população, o que tem contribuído para o avanço da extrema-direita. A ascensão do extremismo reacionário revela um esgotamento do atual modelo político-partidário e do modo de fazer política, exigindo uma reflexão profunda sobre os rumos da democracia.
Por fim, o papel dos meios de comunicação, especialmente das redes sociais, no ressurgimento do extremismo de direita no mundo também foi discutido. Fabio Mascaro destacou a responsabilidade dos meios de comunicação em “normalizar” questões levantadas pela extrema-direita, ressaltando a importância de compreender as causas da adesão às ideias extremistas para combatê-las de forma eficaz.