BRASIL – Pesquisa revela conflitos étnicos, raciais e religiosos contra povos de terreiro no Brasil, apontando aumento na gravidade das violações.

O grupo de pesquisa Ginga, vinculado à Universidade Federal Fluminense (UFF), acaba de lançar um relatório inovador intitulado “Violações contra os povos de terreiro e suas formas de luta”. Este estudo inédito surgiu a partir de uma análise minuciosa de 1.242 publicações veiculadas por mídias digitais entre os anos de 1996 e 2023, revelando conflitos de cunho étnico, racial e religioso que afetam os povos tradicionais de matriz africana no Brasil.

O lançamento deste relatório coincide com o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, celebrado em 21 de janeiro, data estabelecida pela Lei nº 11.635, em 2007. Além disso, o grupo de pesquisa apresentou o novo site, onde estão disponíveis todas as informações utilizadas no relatório, permitindo ao público em geral baixar e filtrar os dados. A coordenadora do Ginga, Ana Paula Mendes de Miranda, destacou a importância do acervo para conscientizar a sociedade sobre os problemas enfrentados pelos povos de terreiro em todo o país.

Segundo a professora de Antropologia da UFF, o objetivo do estudo é fornecer um panorama abrangente das violações sofridas pelos terreiros, evidenciando a violação de direitos dos religiosos de matriz africana, bem como as mobilizações realizadas por essas comunidades em busca de seus direitos. O estudo revelou que a maioria das mídias analisadas são sites e portais de notícias, seguidos por jornais, blogs, revistas e rádios online.

Dos 1.242 eventos investigados, o relatório apontou 512 conflitos de natureza étnico-racial-religiosa contra religiosos, terreiros, locais de prática religiosa e contra religiões de matriz africana de forma geral. As violações mais frequentes incluem invasões e depredações de locais sagrados, ofensas verbais e agressões físicas. Miranda ressaltou que o aumento da gravidade dos casos de violência está relacionado à valorização do discurso de ódio na esfera política.

Além das violações, o estudo também identificou 548 publicações que relatavam ações da sociedade civil e do poder público em resposta aos conflitos religiosos. Dentre as manifestações públicas, as denúncias nas redes sociais tiveram destaque. A coordenadora enfatizou a importância da atuação das secretarias de educação no combate à intolerância, visto que os conflitos também se manifestam no ambiente escolar.

Em suma, o relatório do grupo Ginga evidencia a persistência do racismo no Brasil e o papel crucial da sociedade civil e das autoridades públicas para promover a igualdade e o respeito entre os diversos grupos religiosos e étnicos do país. Através da coleta e análise de dados, o estudo contribui para a conscientização e combate às violações cometidas contra os povos de terreiro e para a promoção da diversidade e da tolerância religiosa em nossa sociedade.

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