O estudo contou com a participação de 1.230 pessoas neurodivergentes ou com deficiência, com idade igual ou superior a 18 anos. Um dos pontos destacados foi que 71% desses profissionais preferem trabalhar em modelo remoto ou híbrido, que mescla expedientes presenciais e remotos. Essa preferência pode estar ligada à falta de estrutura adaptada nas empresas, como mesas, cadeiras e softwares que auxiliem no cumprimento de tarefas.
Um caso relatado nas redes sociais ilustra a realidade enfrentada por muitos desses profissionais. Um usuário cadeirante foi selecionado para uma vaga de emprego, mas foi dispensado logo em seguida porque sua cadeira de rodas não passava entre os batentes da porta do banheiro do escritório. Isso evidencia a falta de adaptação dos ambientes de trabalho para acolher pessoas com deficiência.
Além disso, a pesquisa revelou que um terço dos respondentes afirmou que seu ambiente de trabalho não é devidamente adaptado a eles. A diretora Lia Calder, da empresa 4CO, especializada em diversidade e inclusão, comentou que as empresas no Brasil ainda estão distantes do ideal de inclusão, apesar da existência de leis que visam implementar medidas de acessibilidade nas organizações.
Lia destacou que é preocupante a preferência de algumas empresas em ficar suscetíveis a denúncias do Ministério Público do Trabalho, em vez de se adequarem às necessidades dos funcionários com deficiência ou neurodivergência. A falta de comprometimento das empresas com o desenvolvimento profissional dessas pessoas é evidenciada pelo fato de que muitas delas permanecem em cargos de base por anos, sem oportunidades de progressão.
A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é uma responsabilidade compartilhada entre a sociedade e as organizações. É fundamental que as empresas implementem programas de inclusão e acessibilidade, conforme preconizado pela Convenção sobre as Pessoas com Deficiência da ONU, que foi incorporada à Constituição Federal em 2009. A naturalização da exclusão de pessoas com deficiência e neurodivergência precisa ser combatida, para que o ambiente organizacional seja mais inclusivo e diverso.
Os dados do IBGE também são preocupantes, mostrando que a taxa de informalidade entre as pessoas com deficiência que trabalham é de aproximadamente 55%, com um rendimento médio 30% menor do que o das pessoas sem deficiência. Essas disparidades evidenciam a urgência de implementar medidas que garantam a inclusão e a igualdade de oportunidades para todos os profissionais, independentemente de suas condições.