BRASIL – “Teste do pezinho: especialistas alertam para cobertura deficiente no Brasil, com grandes diferenças regionais”

O teste do pezinho é uma ferramenta fundamental para identificar precocemente diversas doenças raras em recém-nascidos, permitindo intervenções que evitam sequelas graves e até mesmo a morte. Apesar da importância desse exame, a sua cobertura no Brasil está longe do ideal, apresentando grandes discrepâncias regionais, de acordo com especialistas.

De acordo com os últimos indicadores de triagem neonatal divulgados pelo Ministério da Saúde, em 2020 mais de 80% dos bebês realizaram o teste do pezinho, porém apenas 58% tiveram o sangue coletado até o quinto dia de vida, prazo considerado ideal. Esses números indicam que, mesmo antes da pandemia de covid-19, a cobertura do teste não era satisfatória, não ultrapassando os 60%.

Um levantamento da Sociedade Brasileira de Triagem Neonatal e Erros Inatos do Metabolismo revelou que há disparidades entre os estados, com locais como Piauí e Pernambuco apresentando uma taxa baixa de coleta na primeira semana de vida dos bebês, enquanto em Brasília essa proporção é bem mais elevada, chegando a 97%.

A realização do teste do pezinho é indicada entre o segundo e quinto dia de vida do bebê, sendo essencial para o diagnóstico precoce de doenças como a hiperplasia adrenal congênita. Essa condição, se não identificada a tempo, pode levar o recém-nascido à morte por desidratação em poucos dias. No entanto, se diagnosticada rapidamente, o tratamento é acessível e pode prevenir sequelas.

Além da hiperplasia adrenal congênita, o teste do pezinho também pode detectar o hipotireoidismo congênito, uma das principais causas de deficiência intelectual grave evitável com tratamento precoce. No entanto, muitas vezes ocorre atraso na coleta do material e na entrega dos resultados às famílias, o que prejudica o início do tratamento.

Diante desse cenário, a médica Tânia Bachega destaca a necessidade de fiscalização por parte do governo federal para garantir que estados e municípios estejam cumprindo as normas do Programa Nacional de Triagem Neonatal. Além disso, é fundamental o reajuste das verbas destinadas à aquisição de kits de testagem, a fim de evitar desabastecimento.

O Ministério da Saúde foi procurado para comentar a situação, porém ainda não se pronunciou. Atualmente, o teste do pezinho oferecido pelo Sistema Único de Saúde contempla sete doenças, mas há estados, como o Distrito Federal, que realizam exames ampliados, identificando até 62 doenças.

Em 2021, entrou em vigor uma lei que amplia o teste do pezinho para detectar até 50 doenças, porém de forma escalonada. Até o momento, apenas a toxoplasmose congênita foi incluída no painel básico de exames. A importância desse exame precoce para a saúde dos recém-nascidos é inquestionável, sendo imprescindível que haja uma cobertura adequada e eficiente em todo o território nacional.

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