EDITORIAL – A vergonha institucional de Rio Largo

Quando um acusado de homicídio qualificado, investigado por envolvimento com o tráfico de drogas e com histórico de dezenas de processos judiciais se torna presidente da Câmara Municipal, não estamos diante apenas de uma falha do sistema. Estamos diante de uma tragédia institucional, moral e política.

O caso de José Rogério da Silva (PP), atual presidente da Câmara de Rio Largo, deveria estar estampado como exemplo do que não pode mais ser tolerado na política brasileira — mas, lamentavelmente, ainda encontra guarida, silêncio e, pior, normalização. A denúncia pública de que ele teria tentado aplicar um “golpe institucional” para tomar o comando da Prefeitura, feita pelo atual prefeito Carlos Gonçalves, seria apenas mais um capítulo num histórico que, sozinho, já deveria ter encerrado qualquer possibilidade de atuação pública de Rogério.

Mas, não. Rogério sobreviveu — e mais do que isso, prosperou — mesmo após ser considerado foragido pela polícia em uma operação que investigava facções criminosas em Rio Largo. Mesmo após ser denunciado duas vezes por homicídio qualificado. Mesmo devendo a ex-funcionários na Justiça do Trabalho. Mesmo com 42 processos em seu nome.

A pergunta que ecoa, desesperada, nos corredores das instituições que ainda zelam pela democracia é: como?

Como é possível que um homem com esse currículo consiga não apenas se eleger, mas assumir uma das funções mais importantes do Legislativo municipal? Onde estão os mecanismos de controle? Onde falharam os filtros legais e políticos? E mais ainda: onde está a indignação daqueles que dizem representar a ética na vida pública?

A resposta não está apenas nas brechas do Judiciário — que arquiva aqui, recorre ali, se arrasta em processos infinitos —, mas também no silêncio conveniente de quem se beneficia da desordem. A permanência de figuras como Rogério na política é um sintoma de uma máquina apodrecida, que permite que um suspeito de crimes gravíssimos legisle sobre a vida do povo.

Em Rio Largo, a política virou refém do passado criminoso de seus próprios protagonistas. E não se trata de pré-julgamento: trata-se de responsabilidade. Alguém que já foi considerado perigoso a ponto de figurar em uma lista de foragidos da polícia não pode, sob nenhuma hipótese, assumir cargos públicos — especialmente enquanto pairam sobre ele processos não resolvidos, denúncias de homicídio e investigações sobre facções criminosas.

A história de José Rogério da Silva é um espelho distorcido da falência ética em certas estruturas municipais. Não basta apontar as ilegalidades e arquivar processos. É preciso coragem para dizer: não é aceitável. É preciso que os partidos, os colegas parlamentares, o Ministério Público e, principalmente, os eleitores, olhem para esse caso como o escândalo que de fato é.

Rio Largo não pode continuar nas mãos de suspeitos de crimes violentos. O povo não pode ser governado por quem um dia foi considerado ameaça à própria comunidade. E a política não pode ser refúgio para quem deveria, no mínimo, estar respondendo por seus atos — longe da tribuna, longe do gabinete, e de preferência, perto da Justiça.

A cada dia em que José Rogério da Silva permanece no cargo, uma parte da credibilidade do poder público local se desfaz. E com ela, a confiança da população. O preço da omissão será alto — e já está sendo pago com medo, indignação e descrença. Até quando?

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