BRASIL – Lula retira 97 medidas de Bolsonaro em ato de revogação expressiva durante seu mandato presidencial.

No decorrer dos primeiros 200 dias do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 97 dos 210 decretos, portarias, instruções normativas e resoluções do governo anterior foram revogados, segundo um estudo realizado pela Fundação Lauro Campos e Marielle Franco e pelo escritório regional no Brasil da fundação alemã Rosa Luxemburgo.

O estudo intitulado “Revogaço e a Reconstrução da Democracia Brasileira” revelou que diversas medidas prioritárias para a garantia dos direitos da população foram revogadas por Lula. Entre elas, destacam-se os estudos para a privatização de estatais, que foram retirados, bem como a exclusão de empresas como os Correios, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a Dataprev, o Serpro e a Conab do programa de privatização.

Além disso, o presidente Lula reverteu a quebra do sigilo de 100 anos decretado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, restabelecendo as políticas de transparência de dados e informações. Também foram retomadas as políticas de fiscalização ambiental e do trabalho análogo à escravidão, com a imposição de multas e punições aos infratores.

Outro aspecto relevante apontado pelo estudo é a reconstrução da área de políticas de gênero do Sistema Único de Saúde (SUS), bem como a atenção aos direitos da população LGBTQIAPN+, dos povos indígenas e quilombolas. Um exemplo dessa reconstrução é a anulação da Instrução Normativa nº 128/2022, que impedia a titulação de terras quilombolas. Além disso, o governo Lula recriou o Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Queers, Intersexos, Assexuais e Outras, revogando o Decreto 9.883/2019 que criava o Conselho Nacional de Combate à Discriminação.

Antes mesmo do estudo realizado em 2023, pesquisadores das instituições já haviam analisado cerca de 20 mil normas infralegais desde 2019, incluindo decretos, portarias, instruções normativas e resoluções do governo Bolsonaro, além de medidas provisórias, projetos de lei e emendas constitucionais. Esse trabalho foi apresentado ao governo de transição do presidente Lula.

Natália Szermeta, presidente da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, ressaltou a importância dos avanços identificados pelo estudo e enfatizou a necessidade de continuar eliminando as barreiras deixadas pelo governo Bolsonaro. A presidente espera que o debate público seja ampliado e que isso fortaleça os argumentos para avançar ainda mais na agenda de direitos sociais.

Dos 97 atos revogados pelo presidente Lula em 2023, 60 foram considerados questões primordiais para a democracia no Brasil. Especialistas como o cientista político Josué Medeiros, coordenador do Núcleo de Análises, Pesquisa e Estudos (Nape), acreditam que temas como a política de drogas também terão avanços em breve, especialmente após a conclusão da votação no Supremo Tribunal Federal sobre a descriminalização do porte de maconha. Medeiros ressalta a importância da mobilização da sociedade brasileira em defesa da democracia para que ocorram mais avanços.

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