Em 1964, ano do golpe militar no Brasil, Serra era presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e teve que abandonar seus estudos de Engenharia na Universidade de São Paulo (USP). No ano seguinte, ele partiu para o exílio, passando pela Bolívia e França, até finalmente se estabelecer no Chile. Foi lá que ele concluiu seus estudos, obteve um diploma de pós-graduação e atuou como pesquisador e professor.
Logo após o golpe de 1973, que resultou na queda e morte do presidente Salvador Allende, José Serra foi preso. Apesar de acreditar que sua condição de estrangeiro e o fato de trabalhar em um programa internacional concederiam a ele alguma imunidade, descobriu que não era o caso. Ele chegou a conversar com a embaixada italiana no Chile, pois possuía cidadania italiana por ser filho de italianos. No entanto, mesmo com a intervenção da embaixada, Serra foi preso e levado ao Estádio Nacional, um local conhecido por ser um centro de tortura e execução do regime.
Durante sua prisão, Serra ficou isolado e teve pouca visibilidade do que estava acontecendo ao seu redor. Mesmo assim, ele acredita que a repressão no Chile tenha sido a pior entre as ditaduras latino-americanas. Após várias negociações entre as autoridades italianas e os militares chilenos, ele foi autorizado a deixar o país e se mudar para os Estados Unidos.
Ao relembrar o golpe no Chile, Serra ressalta que o ocorrido surpreendeu a todos pela sua brutalidade. Embora acreditasse que algo do tipo poderia acontecer, nunca imaginou que seria tão amplo e afetaria tantas pessoas. Ele lembra que os exilados brasileiros, incluindo ele mesmo, tinham pouca participação no governo de Allende na época.
O ex-senador destaca que a esquerda chilena, conhecida por ser pacífica e acreditar no caminho democrático, não estava preparada para resistir militarmente. Segundo ele, a violência do processo surpreendeu tanto os adversários do regime como aqueles que não tinham envolvimento político direto.
José Serra critica a idealização que algumas esquerdas fizeram sobre o governo de Allende, caso o golpe liderado por Pinochet não tivesse acontecido. Ele acredita que a piora da situação econômica, a hiperinflação e o desempenho do governo foram fatores decisivos na mobilização das forças pró-golpe. Segundo Serra, há muita fantasia em relação a como poderia ter sido o Chile se não tivesse ocorrido o golpe, e o que se viu após o golpe foi uma grande quantidade de atrocidades.
A repressão no Chile foi tão profunda que o país teve que lidar com esses crimes cometidos durante o regime após o seu fim. Serra acredita que, após ficarem chocados com os excessos da extrema-direita, o que ficou foram lições importantes. Ele afirma que tanto o Chile quanto todo o continente aprenderam sobre o valor da democracia, o respeito às regras democráticas e a importância de respeitar os adversários.
Em resumo, o ex-senador José Serra relembra sua experiência no Chile durante o Golpe e destaca a brutalidade da repressão ocorrida durante o regime ditatorial de Pinochet. Apesar da surpresa com os acontecimentos, Serra critica a forma como algumas esquerdas idealizaram o governo de Allende e ressalta a importância de aprender com a história e valorizar a democracia.