Com 4,4 mil hectares e cerca de 815 indígenas, a área foi homologada em 1991 como terra da União de usufruto exclusivo dos povos indígenas. Cada hectare equivale a aproximadamente as dimensões de um campo de futebol oficial. A consulta tem como objetivo discutir a questão da representação democrática da comunidade. No entanto, a situação na reserva tem se mostrado extremamente grave, com relatos de arrendamento ilegal de terras e suspeitas de ligações com atividades criminosas por parte de alguns grupos organizados.
A disputa entre os grupos indígenas tem se intensificado ao longo do último ano e já resultou em pelo menos duas mortes, além de alterar significativamente a rotina do município. A violência na reserva chegou ao ponto de atingir a cidade, com uma briga generalizada durante a abertura de um evento natalino, que resultou em 12 pessoas hospitalizadas. Além disso, uma adolescente de 13 anos morreu após ser atingida por um projétil durante um tiroteio, e duas outras pessoas foram baleadas e hospitalizadas. O cenário se agrava com ações de incêndio em casas na reserva e a falta de segurança para o combate das chamas por parte dos bombeiros voluntários.
A situação em Cacique Doble é decorrente de raízes históricas, como a influência militar no comando do Serviço de Proteção aos Índios, que deu origem a uma estrutura de poder baseada na estrutura militar em algumas comunidades. Isso resultou em uma cultura de arrendamento de terras, mesmo sendo proibido, o que tem contribuído para a desagregação social dos povos originais.
Diante disso, o Ministério da Justiça e Segurança Pública ampliou o prazo para que a Força Nacional de Segurança Pública permaneça no município por mais 90 dias, a pedido do governo estadual, com o objetivo de preservar a ordem pública e garantir a segurança das comunidades. O advogado e membro do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Roberto Liebgott, enfatizou a necessidade de uma intervenção duradoura para criar um ambiente de apaziguamento e promover o debate entre os indígenas sobre o uso da terra e as estruturas de poder interno.
A Agência Brasil entrou em contato com a prefeitura de Cacique Doble e aguarda retorno, assim como aguarda posicionamento do governo do Rio Grande do Sul. A situação na Terra Indígena Cacique Doble destaca a necessidade de intervenções governamentais para solucionar os conflitos existentes e garantir a segurança das comunidades.