BRASIL – Debandada de investidores da poupança afeta setor imobiliário e traz reflexos para crédito imobiliário e mercado financeiro.

A debandada de investidores da mais tradicional aplicação financeira do país está provocando reflexos em outros setores da economia. A caderneta de poupança tem sido alvo da retirada persistente de recursos por parte dos investidores, impactando fortemente o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), uma das mais tradicionais fontes de recursos para financiamentos de imóveis para a classe média com juros limitados.

Em janeiro, os investidores retiraram da poupança R$ 20,1 bilhões a mais do que depositaram, após três anos seguidos de saques. No ano passado, a aplicação perdeu R$ 87,8 bilhões, R$ 103,2 bilhões em 2022 e R$ 35,4 bilhões em 2021. Tais saques têm levado os bancos a destinarem menos dinheiro para empréstimos no SBPE.

Com a diminuição dos recursos na poupança, os mutuários de classe média têm duas alternativas: financiamentos com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ou o Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI). A primeira modalidade também financia imóveis de até R$ 1,5 milhão com juros de até 12% ao mês, mas exige regras adicionais em relação ao SBPE. Já o SFI obedece a taxas e condições de mercado, permitindo o financiamento de imóveis acima de R$ 1,5 milhão, mas normalmente com juros mais altos.

A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) prevê que o volume de crédito no sistema fique estável em relação ao ano passado, afetado tanto pela retirada de recursos da poupança como pelos juros ainda altos. Mesmo com a estagnação do SBPE, a Abecip aposta em crescimento de 3% no crédito imobiliário em 2024, com as concessões fechando o ano em R$ 259 bilhões, superando o recorde de R$ 255 bilhões emprestados em 2021. A entidade também projeta que 320 mil unidades devem ser lançadas neste ano.

Segundo especialistas em direito imobiliário, a mudança estrutural no mercado imobiliário está refletindo a perda de interesse do investidor pela caderneta de poupança, impulsionada tanto pelo baixo rendimento da poupança quanto pela ampliação de opções no mercado financeiro, que estimulam a fuga de investidores. Essa mudança tem levado a uma alteração na composição dos fundos para financiamento imobiliário, com o crescimento dos títulos privados, elevando o custo do crédito para a compra de imóveis.

A redução da caderneta de poupança como uma das principais fontes de recursos para financiamentos no país tem motivado um debate sobre as implicações e a sustentabilidade do mercado imobiliário, indicando uma possível mudança no cenário econômico do Brasil. As entidades e especialistas do setor estão atentos às próximas movimentações do mercado para entender como as novas dinâmicas afetarão a disponibilidade de crédito imobiliário para a classe média no país.

Botão Voltar ao topo