No dia 9 de julho, numa operação do Batalhão de Operação Policias Especiais (Bope) e da Diretoria de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), foi apreendido um fuzil T4 556 pertencente ao traficante José Emerson da Silva, o “Nem Catenga”, que é de Maceió, mas está escondido no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, sob domínio do Comando Vermelho.
A apreensão ocorreu no momento em que a arma estava sendo transportada – camuflada dentro de uma máquina de lavar, num carro de frete – do Clima Bom para a Levada (Vila Brejal), área de domínio da facção criminosa de “Nem Catenga”, onde cresceu e se transformou num bandido perigoso. Mas a investigação iria se desdobrar porque não é todo dia que se apreende um armamento desses em Alagoas.
O assunto poderia ficar numa investigação policial, que ocorreu após o Bope apreender um telefone com um criminoso em Maceió. Mas o assunto foi parar em Brasília quando o deputado Fábio Costa foi às redes sociais denunciar uma suposta “invenção” do Bope, neste caso. Ocorre que o deputado fez uma narrativa nas redes sociais que desgradou aqueles policiais que trabalharam e se arriscaram na investigação. Fábio Costa “jogou para a plateia” que o segue nas redes sociais e sugeriu que a Secretaria de Segurança Pública estaria diante de um escândalo com suposta produção de “falsas investigações e apreensões”.
“Alagoanos, logo após eu divulgar um vídeo, de uma apreensão de um fuzil que de acordo com a divulgação da Secretaria de Segurança Pública teria sido enviado por um traficante alagoano que está foragido no Rio de Janeiro, para ser utilizado pelo crime organizado em Alagoas, eu recebi informações de que esse fuzil, na verdade, pertence a um atirador de Maceió. Se essa informação for confirmada, nós estaremos diante de um verdadeiro escândalo na segurança pública de Alagoas. Se esse fuzil pertencer realmente a um atirador alagoano, eu só posso concluir que essa história foi inventada para enganar a população com a falsa demonstração de que um grande trabalho de inteligência teria desarticulado uma ação do crime organizado”, disse o deputado em seu Instagram.
Ou seja: o deputado (e delegado) Fábio Costa descredibiliza a ação de inteligência do Bope, bem como a operação que resultou na apreensão do armamento pesado. Isso rendeu para o deputado um sentimento de repulsa no Bope. Conforme a reportagem apurou, Fábio Costa é hoje “persona non grata” no Bope. Ele estaria, inclusive, proibido de participar até uma simples corrida promovida pela unidade especial da PM de Alagoas. Isso pode trazer consequências eleitorais para ele já que viria da caserna o maior apoio político ao deputado.
Sobre o colecionador que ele cita no texto para lacração nas redes sociais, trata-se do agente de proteção do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL), Celso Inácio de Souza. Ele foi preso na semana passada, durante cumprimento de mandado de busca e apreensão na casa dele, na parte alta de Maceió. No carro dele, foram encontradas munições para armas calibre 9mm, além de carregadores. Após a prisão, houve a audiência de custódia, mas a reportagem não conseguiu confirmar se ele foi liberado ou levado para o presídio.
Celso Inácio se enquadraria como Colecionador, Atirador e Caçador (CAC) e teria em sua casa quatro fuzis e três armas curtas (revólveres e pistolas). Mas todo esse arsenal teria sido extraviado (furtado) e o Fuzil 556 apreendido seria uma dessas armas. Nessa esteira, é verdadeiro dizer que há a possibilidade de três fuzis modelo T4 556 e mais três armas curtas ‘furtadas’ do agente do CAC Celso Inácio estariam nas mãos de criminosos faccionados em Alagoas.
Sobre esse assunto, há uma informação que coloca o deputado numa espécie de “saia justa”. A publicação dele nas redes sociais foi feita no dia 10 de julho, mas a queixa prestada por Celso Inácio ocorreu no dia 11. Ou seja: as armas já estavam nas ruas e o deputado não repassou a informação aos organismos de segurança em Alagoas.
SSP critica ‘lacração’ de deputado nas redes sociais
No mesmo dia em que foi às redes sociais, Fábio Costa enviou – agora de forma mais comedida e sem acusações – ofício à Secretaria de Segurança Pública (SSP) solicitando informações sobre a apreensão do fuzil TA 556. No breve ofício, Fábio Costa fala da apreensão da arma e de que teria sido informado sobre o extravio de sete armas de um CAC. Ele não disse o nome, nem entrou em detalhes. Isso foi feito no dia seguinte, quando o o dono das armas, Celso Inácio, registrou o Boletim de Ocorrência com suposto furto do armamento que mantinha em casa.
Mas, antes de responder ao ofício, o secretário Flávio Saraiva da Silva, deu a resposta que os organismos de segurança em Alagoas pretendiam. “Primeiramente, embora os questionamentos de Vossa Excelência no citado Ofício tenham sido resumidos e respeitosos, lamentamos que esta mesma postura não tenha sido adotada em vídeo publicado na rede social Instagram de Vossa Excelência [em 10/7/2024], com título ‘escândalo da apreensão de fuzil em Alagoas’. Na referida publicação, sob alegação de que o fuzil apreendido pertenceria a atirador alagoano, Vossa Excelência cogita ‘que essa história’ [apreensão do fuzil do Comando Vermelho] foi inventada para enganar a população com a falsa demonstração de que um grande trabalho de inteligência teria desarticulado uma ação do crime organizado”. Foi assim que Flávio Saraiava iniciou a resposta do ofício do deputado.
Na sequência, o secretário defendeu as autoridades policiais em Alagoas. “Cumpre esclarecer que as declarações de Vossa Excelência são ofensivas à honra de todos os profissionais de segurança pública que estiveram envolvidos na exitosa ação de combate ao crime organizado e que o descrédito às instituições de Segurança, propagado por Vossa Excelência a partir de avaliações pessoais equivocadas, causa sensação de insegurança e prejudica o trabalho dos policiais que diariamente combatem as organizações criminosas”, disse Flávio Saraiva.
O secretário disse ainda que foram liberadas para a imprensa as informações que não comprometeriam o restante da investigação e que, na condição de delegado de polícia, o deputado Fábio Costa deveria saber que, numa investigação, há que se manter o sigilo sobre alguns desdobramentos futuros.
“Em resumo, ações delicadas e sensíveis como esta, envolvendo armamento de grosso calibre adquirido por facção criminosa, natural que ações de inteligência e contrainteligência sejam adotadas para proteger a própria atividade de inteligência, bem como todos os seus recursos, como instalações, pessoas, equipamentos, recursos e fontes humanos. Com o respeito devido, causa perplexidade que Vossa Excelência, com a experiência que acumulou, especialmente em confrontos com o crime organizado de roubo a banco, não tenha conseguido discernir quais informações podem e devem ser divulgadas e quais outras devem ser mantidas sob sigilo pelo tempo devido”, disse Flávio Saraiva. (Repórter – Deraldo Francisco)