BRASIL – “Revolta dos Malês: filme que resgata a história de rebelião negra no Brasil chega aos cinemas e festivais internacionais”

Na noite de 24 de janeiro de 1835, um grupo de africanos, em sua maioria escravizados, se reunia em um sobrado em Salvador, Bahia. Esses africanos, muitos deles muçulmanos trazidos à força de países como Senegal, Togo, Mali e Nigéria, estavam prestes a iniciar um levante contra a opressão e a escravidão que sofriam. O plano era que o levante acontecesse na manhã seguinte, mas devido a uma delação, a movimentação de soldados imperiais forçou a antecipação dos planos.

Assim se deu a Revolta dos Malês, considerada a maior rebelião urbana de escravizados no Brasil. Esta história, que completa 190 anos, foi apresentada ao público da Mostra de Cinema de Tiradentes, onde o filme “Malês”, dirigido por Antônio Pitanga, teve sua pré-estreia em praça pública. O longa-metragem, que passou por diversos festivais e foi selecionado para o Festival Pan-Africano de Cinema em Burkina Faso, é a primeira ficção brasileira a participar desse evento.

O diretor Pitanga revela que seu objetivo com o filme vai além das salas de cinema comerciais. Ele deseja que a obra alcance escolas, favelas e quilombos, buscando disseminar essa história que não é contada nas escolas. Os Malês, nome dado aos muçulmanos negros, eram pessoas instruídas, conhecedoras do alfabeto árabe, que planejaram minuciosamente a rebelião marcada para o fim do Ramadã.

Durante mais de três horas de confronto, mais de 70 africanos perderam suas vidas e centenas foram brutalmente punidos. O filme de Pitanga busca humanizar esses personagens, mostrando suas individualidades, sonhos e lutas, e fugindo do estereótipo do escravo como vítima passiva. O elenco conta com a participação dos filhos de Antônio Pitanga, Rocco e Camila, além da atriz Patrícia Pillar.

A produção do filme demandou um estudo aprofundado do período e da cultura dos Malês e contou com aulas de árabe para os atores. O objetivo de Pitanga é que “Malês” alcance um público diversificado, indo além das salas de cinema e alcançando espaços de saber. O diretor ressalta a importância de filmes como “Malês” e “Kasa Branca” darem visibilidade a atores negros e suas individualidades.

A trajetória do filme “Malês” está sendo construída ao longo da Mostra de Tiradentes, um dos principais festivais de cinema do país, que promove debates, shows, oficinas e outras atividades culturais. Mesmo com a excelência do filme “Ainda Estou Aqui”, indicado ao Oscar, Pitanga acredita que “Malês” terá seu próprio caminho, atravessando espaços de saber e promovendo diálogos sobre a história do Brasil que não é contada.

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