Assim se deu a Revolta dos Malês, considerada a maior rebelião urbana de escravizados no Brasil. Esta história, que completa 190 anos, foi apresentada ao público da Mostra de Cinema de Tiradentes, onde o filme “Malês”, dirigido por Antônio Pitanga, teve sua pré-estreia em praça pública. O longa-metragem, que passou por diversos festivais e foi selecionado para o Festival Pan-Africano de Cinema em Burkina Faso, é a primeira ficção brasileira a participar desse evento.
O diretor Pitanga revela que seu objetivo com o filme vai além das salas de cinema comerciais. Ele deseja que a obra alcance escolas, favelas e quilombos, buscando disseminar essa história que não é contada nas escolas. Os Malês, nome dado aos muçulmanos negros, eram pessoas instruídas, conhecedoras do alfabeto árabe, que planejaram minuciosamente a rebelião marcada para o fim do Ramadã.
Durante mais de três horas de confronto, mais de 70 africanos perderam suas vidas e centenas foram brutalmente punidos. O filme de Pitanga busca humanizar esses personagens, mostrando suas individualidades, sonhos e lutas, e fugindo do estereótipo do escravo como vítima passiva. O elenco conta com a participação dos filhos de Antônio Pitanga, Rocco e Camila, além da atriz Patrícia Pillar.
A produção do filme demandou um estudo aprofundado do período e da cultura dos Malês e contou com aulas de árabe para os atores. O objetivo de Pitanga é que “Malês” alcance um público diversificado, indo além das salas de cinema e alcançando espaços de saber. O diretor ressalta a importância de filmes como “Malês” e “Kasa Branca” darem visibilidade a atores negros e suas individualidades.
A trajetória do filme “Malês” está sendo construída ao longo da Mostra de Tiradentes, um dos principais festivais de cinema do país, que promove debates, shows, oficinas e outras atividades culturais. Mesmo com a excelência do filme “Ainda Estou Aqui”, indicado ao Oscar, Pitanga acredita que “Malês” terá seu próprio caminho, atravessando espaços de saber e promovendo diálogos sobre a história do Brasil que não é contada.