Audiência pode mudar situação do campeão mundial e do irmão
Na tarde desta terça-feira (7), uma audiência, pode mudar a situação de Ronaldinho Gaúcho e seu irmão, Roberto de Assis, presos desde o dia 6 de março, acusados de entrar no país com passaportes adulterados. Os dois podem ser soltos ou transferidos para prisão domiciliar. A decisão será do juiz Gustavo Amarilla.
Desde então, a defesa dos brasileiros já teve três recursos negados pela Justiça do Paraguai. Esta será a quarta tentativa de tirá-los da Agrupación Especializada, quartel da Polícia Nacional do Paraguai transformado em cadeia de segurança máxima.
A perícia nos telefones celulares de Ronaldinho e Assis, que começou no dia 18 de março, finalmente foi concluída. O Ministério Público do Paraguai informou que “continua trabalhando na produção de provas” sobre o caso, que já teve 15 pessoas presas.
A defesa de Ronaldinho não quis comentar o caso, seus advogados afirmaram que se pronunciariam depois da audiência.
Entenda o caso
Após chegarem no Paraguai no dia 4 de março, Ronaldinho e Assis receberam no hotel a visita de autoridades paraguaias à noite. Passaram a noite sob custódia e, no dia seguinte, contaram ao Ministério Público tudo o que sabiam. Admitiram que tentaram entrar no país com aqueles documentos, mas que não sabiam serem falsos. O MP paraguaio enquadrou os irmãos Assis numa figura jurídica chamada “critério de oportunidade”, que a grosso modo permite aos réus não serem acusados formalmente pelos crimes que cometeram, desde que consigam reparar o dano causado. Na prática: Ronaldinho e Assis seriam submetidos a uma “pena social” – uma doação para uma ONG, por exemplo – e poderiam deixar o Paraguai.
Na audiência em que seria definida o tamanho dessa “pena social”, houve uma reviravolta. A justiça não aceitou dar o “critério de oportunidade” para Ronaldinho e Roberto. O Ministério Público mudou sua posição e pediu a prisão preventiva dos irmãos Assis. Às 22h de sexta-feira, 6 de março, quando estavam num hotel próximo ao aeroporto, os irmãos Assis foram detidos e levados para a Agrupación Especializada. Desde então três recursos apresentados pela defesa de Ronaldinho foram negados pela Justiça. Os advogados de defesa não conseguiram nem mudar os irmãos Assis para uma prisão domiciliar, e nem anular a prisão preventiva, que no Paraguai pode durar até seis meses. O argumento para mantê-los presos foi sempre o mesmo: soltá-los poderia prejudicar o andamento das investigações.
O último desses recursos foi negado numa sexta-feira 13, uma semana depois da prisão. Desde então, o sistema judicial do Paraguai passou a funcionar com restrições por causa da pandemia do coronavírus. Outros recursos só serão apresentados pela defesa após o fim do recesso, que não tem data prevista. No dia 18 de março, uma terça-feira, teve início uma perícia nos telefones celulares de Ronaldinho e Assis. Quase três semanas depois, esse procedimento ainda não foi concluído. A defesa dos brasileiros diz acreditar que o resultado dessa perícia será importante para provar que eles não fizeram nada além de terem entrado no país com aqueles documentos.
Mas o que Ronaldinho foi fazer no Paraguai?A resposta passa obrigatoriamente por Roberto Assis, irmão do craque e seu agente desde sempre. Assis aceitou uma proposta apresentada por um amigo, Wilmondes Souza Lira, de abrir uma empresa para fazer negócios no Paraguai. Wilmondes é casado com Paula Lira, que por sua vez é (ou era) amiga da paraguaia Dalia Lopez, que financiou tanto a confecção dos passaportes falsificados quanto a própria viagem de Ronaldinho e Assis no Paraguai.
O “projeto” que unia Dalia Lopez, o casal Lira e os irmãos Assis era mambembe, para dizer o mínimo: transformar ônibus em “clínicas móveis”, que atenderiam crianças carentes no Paraguai. Os veículos teriam a imagem do craque brasileiro. A ONG que viabilizaria o projeto não tem site na internet e nem endereço físico.
Dalia Lopez é uma empresária do ramo de exportação, alvo de uma investigação por parte do Ministério da Tributação, iniciada em setembro de 2019, e sigilosa até a chegada de Ronaldinho ao Paraguai. Ela é acusada de desviar pelo menos US$ 10 milhões em um esquema de sonegação de impostos e lavagem de dinheiro. O MP do Paraguai pediu a prisão de Dalia Lopez no dia 7 de março, um sábado. Desde então, ela está foragida, apesar de seus advogados já terem declarado que ela iria se entregar.
Wilmondes Souza Lira, o empresário amigo de Assis, está preso no Paraguai. Sua mulher, Paula Lira, que também teria sua prisão pedida, fez um acordo com o Ministério Público do Paraguai. Ela contou tudo o que sabia sobre o esquema, entregou documentos e mensagens de celular. Em troca, pôde deixar o Paraguai e voltar ao Brasil. Ela foi escoltada, de carro, até Foz do Iguaçu.
Enquanto a investigação avança a passos muito lentos, Ronaldinho e Assis seguem presos em Assunção. A rotina dos dois mudou ao longo desse mês. Nos primeiros dias, o assédio era intenso. Ronaldinho recebeu a visita de astros do futebol paraguaio, como Gamarra, e de outros jogadores ganhou presentes que deixaram menos dura sua vida na cadeia, como televisão, ar-condicionado, camas, frigobar. Foi alvo de tietagem de policiais e de gente que visitava o local mesmo sem ter nenhum parente preso; foi motivo de disputa entre outros presos, que o queriam como reforço para o campeonato de futebol interno.