Médico se recusa a falar sobre tratamento pessoal e relata invasão de privacidade
Na última semana um assunto virou tema polêmico nas redes sociais. A pergunta que não quer calar: O médico David Uip usou ou não hidroxicloroquina para se curar do coronavírus?
O infectologista e chefe do Centro de Contingência contra o coronavírus em São Paulo, David Uip, foi afastado após diagnóstico positivo para Covid-19, anunciado no dia 23 de março. Após passar por um tratamento, o médico foi curado, mas se recusou a falar sobre o medicamento usado contra a doença.
O assunto acabou virando uma questão política, onde o próprio presidente Jair Bolsonaro, entusiasta do medicamento, cobrou respostas ao médico, que continuava evitando falar sobre o assunto.
Mas, por que Uip não queria divulgar uma informação tão valiosa nos tempos de hoje? O objetivo não é a cura para todos os infectados? Deixou de ser uma preocupação pela Saúde pública e se tornou articulação política? A única certeza é que a cloroquina tornou-se o centro de uma discussão política sobre as medidas adequadas para conter o avanço da pandemia no Brasil.
Nesta quarta-feira, 8, após o vazamento de uma receita com prescrição da cloroquina assinada pelo próprio médico, Uip afirmou que tomará as “providências legais” contra quem invadiu a privacidade de sua clínica e pacientes.
“A minha privacidade foi invadida. A privacidade da minha clínica, que lida com clientes com sigilo absoluto, foi invadida. Tomarei as providências legais adequadas para a minha invasão de privacidade e de meus pacientes.”
Mais cedo, em entrevista à Rádio Gaúcha, Uip disse que sua clínica não compra a cloroquina em farmácia, mas, sim, na versão manipulada. Confirmou a veracidade da receita, mas pontuou que a data é de 13 de março, ou seja, 10 dias antes de seu diagnóstico.
David ainda pediu que o presidente Bolsonaro respeitasse o seu direito à privacidade como foi respeitado o direito de não divulgar o resultado de seu exame para Covid-19. “Eu respeitei o seu direito de não revelar o seu diagnóstico. Respeite o meu direito de não revelar o meu tratamento. Eu nunca revelei tratamento dos meus pacientes, eu nunca revelei doenças dos meus pacientes sem ser autorizado. Presidente, por favor, me respeite e respeite o meu direito de privacidade.”
O infectologista acrescentou que estão “fazendo confusão” com seu tratamento e que não tem nada contra o uso da cloroquina. “Não tenho nada contra o uso de cloroquina. Pelo contrário, eu uso nos meus pacientes internados. Todo mundo sabe disso. O que está se fazendo uma confusão é a respeito do meu tratamento pessoal.”
Ele também reforçou que não entrará em discussão política. “Eu não entro em discussão política sob hipótese alguma. A minha função é tecnocientífica, de orientação, coordenação de um grupo que assessora o governo do estado de São Paulo, mas, na verdade, tenta ajudar o povo de São Paulo e do Brasil, como eu sempre fiz. A minha postura é absolutamente técnica. Nós somos muito cuidadosos.”
David voltou a dizer que foi ele quem sugeriu a Luiz Henrique Mandetta ampliar os casos em que é permitido o uso da hidroxicloroquina, mas ressaltou que o medicamento tem efeitos colaterias.
“A cloroquina não é um remédio inócuo. Ela tem efeitos adversos cardíacos, hepáticos e visuais. Então, é um medicamento que tem de ser usado com critérios e cuidado, sob a observação do médico que o prescreveu.”