Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras. Porém, muito mais do que ver fotos, publicar imagens ou dar likes nos conteúdos das redes sociais, estar presente, viver a realidade e conversar com as pessoas para compreender o sofrimento delas é uma experiência incomparável. E é justamente isso que faz a gente pertencer a uma comunidade: ser maceioense é ter orgulho de nossas belezas naturais e da nossa gente e principalmente entender que muitos ainda padecem por aqui.
Mesmo com essa pandemia que nos coloca tão isolados, numa quarentena tão sofrida, eu tive que atender a um pedido de ajuda. Quase um grito de socorro! Esses dias, fui atender aos amigos comerciantes e trabalhadores do nosso histórico Mercado Público do bairro de Bebedouro que estão vivenciando uma realidade assustadora. Lembrando que eles não têm condições de se manter isolados. Precisam acordar bem cedo, como todo trabalhador, para garantir o pão de cada dia.
O mercado público de Bebedouro já foi mais tradicional. Se não bastasse essa catástrofe que está afundando toda uma região por causa da ganância e um vírus que já ceifou a vida de quase 1.500 alagoanos, todos os trabalhadores e comerciantes que dependem financeiramente daquele mercado público estão desesperados e completamente esquecidos tanto pelo poder público, como pela empresa que causou todo esse caos.
Durante essa conversa que eu tive ali com eles, comerciantes e feirantes, percebi que o abandono não estava apenas estampado no rosto daquelas pessoas, mas também nas paredes desbotadas, trincadas e sem pintura, na estrutura do telhado que enferrujam sem manutenção, nas imensas rachaduras no piso e nas tarimbas de carnes e de peixes e nas péssimas condições sanitárias, hidráulicas e elétricas do prédio. A situação do Mercado Público de Bebedouro é de completo abandono.
E pensar que algumas décadas atrás, aos meus 18 anos de idade, meu primeiro emprego foi justamente administrar aquele local. Comecei a minha vida profissional naquele mercado público, coordenando meio mundo de gente que frequentava e trabalhava ali. Antigamente, não era fácil, mas havia trabalho e esperança. Hoje, os comerciantes não encontram opções, e o pior, não há perspectiva alguma.
Infelizmente, Maceió está dando um péssimo exemplo de como perder oportunidades econômicas e de como desvalorizar a cultura e a história da nossa cidade.
Em outras capitais do País, os mercados públicos são locais destinados à convergência de pessoas e de negócios. Em São Paulo, por exemplo, é quase obrigatório visitar o mercado público de lá. E não é apenas pelo comércio, mas também por ser uma importante atração turística e um polo gastronômico. Por aqui, o projeto de equipamentos públicos como esse é simplesmente não ter projeto! Não existe nenhuma proposta de aproveitamento pra esses mercados! Deixando os comerciantes a mercê da sua própria sorte. O resultado é vergonhoso! Quem em Maceió teria coragem de levar algum turista pra conhecer os mercados públicos da nossa cidade? Ninguém.
Nesse momento, a incompetência dos gestores públicos se soma aos efeitos nefastos de uma catástrofe anunciada e da pandemia, limitando ainda mais as perspectivas das pessoas que precisam daquele espaço. É necessário definir um plano emergencial para socorrer os comerciantes e trabalhadores do Mercado Público de Bebedouro e que inclua, necessariamente, tanto a sua transferência imediata pra outro local, como também as devidas indenizações pelos prejuízos causados até agora.
Chega de omissão e de falta de políticas públicas. O Mercado Público de Bebedouro, parte da história e da cultura da nossa cidade, não pode ser abandonado.
* Israel Lessa
Ex-Superintendente do Trabalho em Alagoas