BRASIL – Estudo revela que 75% dos terreiros de religiões afro estão sujeitos a violência, enquanto a segurança pública é tema recorrente de discussões no Rio de Janeiro.

Um estudo realizado na zona oeste do Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense revelou que 75% dos terreiros de religiões de matriz africana já foram alvo de algum tipo de violência. A pesquisa, que foi idealizada pela Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJRacial), uma organização não governamental que promove debates e atividades na Baixada Fluminense, contou com a parceria do Centro Cultural de Tradições Afro-brasileiras Yle Asé Egi Omim, localizado no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro.

A pesquisa, intitulada Egbé, que significa sociedade ou comunidade em iorubá, foi coordenada por Patrick Melo e teve como objetivo entender como as comunidades enxergam a política de segurança pública, além de traçar um perfil dos terreiros e suas lideranças. Ao todo, foram realizados grupos de discussão durante um mês, envolvendo 10 a 12 participantes em cada um deles. Também foram coletados dados por meio de formulários online preenchidos por lideranças dos terreiros.

De acordo com os resultados divulgados, todas as comunidades participantes do estudo demonstraram total descrédito nas instituições policiais para fins de proteção e segurança. As denúncias de violações raramente resultam em ações efetivas, sendo muitas vezes minimizadas pelas autoridades. As agressões contra os terreiros vão desde ameaças e injúria racial até agressões físicas e expulsões dos territórios determinadas por milícias ou organizações do tráfico.

Um dos casos emblemáticos citados no estudo é o da casa Xwe Nokun Ayono Avimaje, fundada há 10 anos em Nova Iguaçu, que já foi invadida e depredada três vezes. Além das violências físicas, também são registradas violações à liberdade religiosa, como a imposição de horários restritos para a realização dos rituais sagrados.

Para Patrick Melo, os dados obtidos no estudo indicam que as violações estão diretamente relacionadas com a omissão do Estado na defesa dos direitos humanos e dos direitos dos povos de religiões de matriz africana. O pesquisador destaca que as comunidades atuam de forma autônoma em rede, buscando fortalecimento conjunto com outros terreiros de religião.

O estudo também levanta a reflexão sobre o conceito de intolerância religiosa, que, segundo os pesquisadores, mascara e não dá conta do que acontece especificamente com as religiões de matrizes africanas. Os pesquisadores defendem o uso do conceito de racismo religioso para abordar as violações cometidas contra os terreiros.

A associação entre o crime e a fé cristã também tem chamado atenção de especialistas em segurança pública. Pesquisas como o livro “Traficantes Evangélicos” e “Oração de Traficante: uma etnografia” analisam a utilização de símbolos e narrativas neopentecostais por grupos criminosos.

Diante desse cenário de violência e omissão do Estado, as comunidades de terreiros de religiões de matriz africana buscam se fortalecer e se organizar de forma autônoma em rede para enfrentar esses desafios. É necessário que a sociedade e as autoridades reconheçam a gravidade dos episódios de violação aos terreiros e adotem medidas efetivas para garantir a segurança e a liberdade religiosa dessas comunidades.

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