BRASIL – Pesquisadores da UFRRJ descobrem novos pontos de avistamento de espécies de peixes das nuvens em suas expedições.

Pesquisadores do Laboratório de Ecologia de Peixes (LEP) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) fizeram uma descoberta surpreendente ao identificar três novos locais de ocorrência dos peixes das nuvens, conhecidos como rivulídeos. Esses peixes fazem parte de um grupo diversificado, composto por mais de 300 espécies, que se encontram distribuídas pelo Brasil. No entanto, 130 dessas espécies estão ameaçadas de extinção, como revelado na Lista Oficial das Espécies Ameaçadas de Extinção divulgada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) no ano passado. Esses peixes ocupam o primeiro lugar em número de espécies ameaçadas em todo o país.

Dos três novos locais de ocorrência da espécie Notholebias minimus, um deles foi encontrado na Área de Proteção Ambiental (APA) das Brisas, localizada na Baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro, e os outros dois foram encontrados no município de Seropédica, sendo um em um campus da UFRRJ. Esse achado é resultado da pesquisa de doutorado de Gustavo Henrique Soares Guedes, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da UFRRJ, sob a orientação do professor Francisco Gerson Araújo, do Departamento de Biologia Animal da instituição e coordenador do LEP. Essa descoberta é especialmente significativa, pois a espécie Notholebias minimus está enfrentando um alto risco de extinção na natureza. Além disso, essa foi a primeira vez que o peixe foi encontrado dentro do campus da universidade.

Gustavo Guedes, em entrevista à Agência Brasil, explicou que a espécie Notholebias minimus é endêmica do Rio de Janeiro, ou seja, não existe em nenhum outro lugar do mundo. Esses peixes são pequenos e coloridos, com um comprimento máximo de quatro centímetros. Eles são encontrados principalmente na Mata Atlântica, mas também podem ser encontrados na Floresta Nacional (Flona) Mário Xavier, localizada em Seropédica, no estado do Rio de Janeiro.

Além dos locais já mencionados, esses peixes também foram encontrados no Bosque da Barra, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, e na Reserva Biológica de Guaratiba. No entanto, durante a pesquisa, os cientistas não encontraram esses peixes nesses locais. Isso não significa necessariamente que eles não existem mais, pois esses peixes têm uma época específica para serem encontrados. A falta de conhecimento científico sobre essas espécies, que são as mais ameaçadas da fauna brasileira, dificulta a compreensão de suas características e ameaças. A perda e a degradação do habitat, especialmente na Mata Atlântica, são fatores que contribuem para a ameaça de extinção desses peixes. Além disso, as mudanças climáticas, as espécies invasoras e a poluição também representam ameaças para essas espécies.

De acordo com Gustavo Guedes, a planície costeira do Rio de Janeiro, que se estende desde Copacabana até Seropédica, costumava ser formada por brejos onde esses peixes eram encontrados em todo o litoral. No entanto, o avanço da urbanização resultou na destruição desses habitats. Há espécies que não são encontradas há 30 anos e é necessário procurar por novas espécies para determinar se elas estão realmente extintas ou não.

O tráfico de animais é outra ameaça para esses peixes. Os traficantes não traficam os peixes das nuvens diretamente, mas sim seus ovos. Os ovos podem ser enviados pelo correio e são muito resistentes, podendo sobreviver por até seis meses sem água. No entanto, é difícil detectar o tráfico desses animais devido à forma como o contrabando é realizado.

Gustavo Guedes e sua equipe têm como objetivo mapear os peixes das nuvens em todo o Brasil para descobrir novos locais de ocorrência dessas espécies ameaçadas. A criação de unidades de conservação é uma medida eficaz para proteger esses peixes e entender melhor sua vulnerabilidade às mudanças climáticas. A pesquisa de campo começará em outubro, durante o período de chuvas na Região dos Lagos. O trabalho se estenderá por dez dias.

Os novos dados de ocorrência dos peixes estão disponíveis no Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SIBBr) e na Global Biodiversity Information Facility (GBIF), plataformas digitais que reúnem dados abertos sobre a biodiversidade e os ecossistemas.

Essa pesquisa da UFRRJ foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio – Conservando o Futuro).

Um artigo científico com os principais resultados dessa pesquisa foi publicado na revista Neotropical Ichthyology e está disponível para leitura gratuita.

Essa descoberta é de extrema importância para a conservação dessas espécies ameaçadas e destaca a importância de estudos e pesquisas para entender e proteger a biodiversidade do nosso país.

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